Pneumologia
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Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica: causas e sintomas

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Equipe medclub
Publicado em
28/6/2024
 · 
Atualizado em
28/6/2024
Índice

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma doença do sistema respiratório caracterizada pela persistência de tosse, dispneia e limitação do fluxo aéreo. infelizmente, a DPOC é uma condição que acomete uma parcela significativa da população, principalmente indivíduos de idade avançada. Por isso, seu estudo é extremamente importante para que ocorra um manejo adequado e um resgate da qualidade de vida para aqueles acometidos pela patologia. 

O que é a doença pulmonar obstrutiva crônica? 

Segundo a Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD), a DPOC é definida como uma “doença pulmonar heterogênea caracterizada por sintomas respiratórios (dispneia, tosse, expectoração, exacerbações) devido a anormalidades das vias aéreas (bronquite, bronquiolite) e/ou alvéolos (enfisema) que causam obstrução persistente, muitas vezes progressiva, do fluxo aéreo”. 

Dessa forma, decorre de um processo inflamatório nos brônquios, que causam obstrução e, ao longo do tempo, fibrose. Tais danos são responsáveis por uma série de danos ao aparelho respiratório inferior, causando limitação ao fluxo aéreo e uma série de sintomas que prejudicam a qualidade de vida da pessoa. 

A doença é uma grande causa de impacto socioeconômico, pelo grande número de visitas ao consultório médico e de internação pela população. Isso porque os pacientes podem exacerbar e precisam de uma terapia crônica. 

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Epidemiologia 

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica encontra-se como uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, principalmente nos países mais desenvolvidos, que possuem a população mais velha, uma vez que as taxas de prevalência, incidência e mortalidade aumentam com a idade. Em 2019, a DPOC foi a causa da morte de 3,23 milhões de mortes no mundo e é apontada como a terceira maior causa de morte

Quanto ao sexo, foi evidenciado em estudos epidemiológicos observacionais que a prevalência é mais elevada em mulheres. Contudo, a mortalidade total é semelhante em ambos os sexos. 

Mecanismos fisiopatológicos 

Como dito no próprio conceito definido pelo GOLD, a DPOC causa uma agressão no aparelho respiratório, o que está responsável pelo surgimento de uma bronquite e/ou enfisema pulmonar. Para o melhor entendimento dessa doença, é necessário entender sobre essas duas condições: 

  • Bronquite crônica: condição em que ocorre um processo inflamatório nos brônquios, causando obstrução e, ao longo do tempo, fibrose. Pacientes com bronquite crônica possuem uma tosse produtiva e está muito relacionada com o tabagismo. 
  • Enfisema pulmonar: os alvéolos pulmonares, após um longo período de exposição à inflamação, passam por um processo de destruição tecidual dos septos alveolares, o que acarreta em aumento dos espaços aéreos distais. Dessa forma, as unidades alveolares, que antes possuíam um formato de “cacho de uva”, passarão a ter a forma de uma “sacola”. Esse achado se manifesta clinicamente pela diminuição da ausculta pulmonar e radiologicamente por uma hiperinsuflação dos pulmões. 

α-1-antitripsina

A α-1-antitripsina é um enzima responsável por impedir essa destruição alveolar. O Tabagismo, entretanto, causa uma deficiência dessa enzima. Além disso, a deficiência da α-1-antitripsina também poderá acontecer por fatores genéticos. 

Como fator genético deve ser suspeitada nos pacientes jovens sem risco conhecido; que apresentem enfisema basal e panacinar; com hepatopatia associada e com história familiar positiva.

Representação de pulmão com enfisema pulmonar e bronquite crônica. Fonte: Dr. pereira

ATENÇÃO! Na prática clínica, pacientes com DPOC vão apresentar tanto bronquite crônica quanto enfisema pulmonar. 

Fatores de risco para doença pulmonar obstrutiva crônica 

Entre os fatores de risco para o desenvolvimento e progressão da doença, podemos mencionar fatores ambientais e fatores genéticos, são eles: 

Fatores de risco ambientais 

  • Tabagismo: tanto ativo quanto passivo, o tabagismo é considerado o principal fator de risco para DPOC;
  • Poluição: a queima de biomassa, a qual ocorre na poluição ambiental, na agricultura e no fogão a lenha para cozinhar, entram como fatores de risco pela exposição à fumaça;
  • Metalúrgicos;
  • Nível socioeconômico baixo; 
  • Infecções recorrentes. 

Fatores genéticos 

  • Deficiência de α-1-antitripsina;
  • Sexo feminino;
  • Idosos a partir de 60 anos; 
  • Prematuridade; 
  • Pacientes asmáticos.

Assim, apesar do tabagismo ser o maior fator de risco, jamais deveremos descartar a possibilidade de um paciente que não fuma não ter DPOC. Torna-se necessário uma anamnese detalhada, questionando a presença de tabagistas na casa, se houve exposições ocupacionais e ambientais, além de histórico familiar positivo para a doença.  

Sintomas e sinais de doença pulmonar obstrutiva crônica 

Os principais sintomas da doença pulmonar obstrutiva crônica são dispneia, produção de expectoração e tosse crônica. Apesar de que qualquer um desses sintomas possam surgir de forma independente, geralmente, o primeiro sintoma a ser percebido pelas pessoas é uma dispneia relacionada aos esforços. Uma maneira eficaz de classificar o grau da dispneia é pela escala modificada do Medical Research Council (mMRC): 

CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO
0 Dispneia só aos grandes esforços / exercício intenso
1 Dispneia se andar rápido ou subir ladeira
2 Anda mais devagar do que pessoas da mesma idade devido falta de ar, ou há necessidade de parar para respirar ao caminhar em seu próprio ritmo, no plano
3 Dispneia após andar menos de 100 metros ou após andar poucos minutos no plano
4 muita falta de ar para sair de casa, ou falta de ar quando tira ou veste uma roupa
Escala do mMRC. Fonte: GOLD 2023

O exame físico, por outro lado, não será muito rico, com achados mais inespecíficos, quando presentes, como a existência de roncos e sibilos, tórax em tonel e murmúrios vesiculares reduzidos. Ademais, a saturação de oxigênio em pacientes com DPOC será menor quando comparado a outras pessoas. Uma saturação de 90% de O2 em uma pessoa normal pode ser um sinal de alerta, enquanto que, para uma pessoa com DPOC, seria o esperado.

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Como diagnosticar?

A Doença pulmonar Obstrutiva Crônica deve ser suspeitada quando o paciente apresenta clínica positiva para a doença, como relato de dispnéia, tosse crônica, produção crônica de expectoração e presença de fatores de risco. Entretanto, o diagnóstico não é clínico, mas sim através da realização de exame espirométrico e prova broncodilatadora

A espirometria, também conhecido como teste do sopro ou de prova ventilatória, é o exame capaz de aferir a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões, e, a partir de comparações com padrões pré-estabelecidos de normalidade, é possível definir como está a função pulmonar do paciente. 

Exame de espirometria, sendo realizado por paciente. Fonte: PneumoCenter 
Exame de espirometria, sendo realizado por paciente. Fonte: PneumoCenter 

No caso da doença pulmonar obstrutiva crônica, a espirometria é feita para determinar se há limitação do fluxo aéreo e se essa limitação é parcial ou totalmente reversível. Para saber se ocorre reversibilidade da limitação do fluxo, será necessário que o paciente utilize um broncodilatador e repita novamente o teste do sopro. 

O resultado espirométrico será compatível com DPOC na existência de limitação do fluxo aéreo (relação VEF1/CVF < 0,7) irreversível ou parcialmente reversível com uso de broncodilatador (prova broncodilatadora negativa). 

ATENÇÃO! No exame espirométrico, também constará a medida da capacidade vital forçada por curva de fluxo-volume. Analisar essa curva é importante, pois, a alça respiratória na curva será prolongada nos distúrbios obstrutivos, se assemelhando a uma “cadeira de praia”. 

Relação fluxo-volume normal (à esquerda) e compatível com distúrbio obstrutivo (à direita). Fonte: CUREM 
Relação fluxo-volume normal (à esquerda) e compatível com distúrbio obstrutivo (à direita). Fonte: CUREM 

Estadiamento da DPOC

A avaliação da gravidade e o estadiamento da DPOC são importantes para prever o prognóstico da doença e qual o melhor tratamento a ser feito. Para isso, utilizamos o sistema de classificação GOLD, que classifica a doença em 4 classes, de acordo com o valor do VEF1 em % na prova pós-broncodilatadora:

GOLD 1 - Leve VEF1 ≥ 80% do predito
GOLD 2 - Moderado 50% ≤ VEF1 < 80% do predito
GOLD 3 - Grave 30% ≤ VEF1 < 50% do predito
GOLD 4 - Muito grave VEF1 < 30% do predito
Gravidade de obstrução ao fluxo aéreo pós-broncodilatador na DPOC. Fonte: GOLD 2023

Além da classificação do GOLD para gravidade espirométrica da doença, o GOLD também recomenda uma ferramenta de avaliação que norteia o manejo farmacológico da doença. Para isso, será utilizado o número de hospitalizações que o paciente precisou ter e os sintomas do paciente, a partir do mMRC e do CAT (COPD assessment test). 

Teste de avaliação dos sintomas da DPOC pela escala CAT. Fonte: Linhas de cuidado 
Teste de avaliação dos sintomas da DPOC pela escala CAT. Fonte: Linhas de cuidado 

A ferramenta de avaliação multidimensional que ajuda no manejo da doença pulmonar obstrutiva crônica é chamada de “ABE”

Escala ABE. Fonte: GOLD 2023 
Escala ABE. Fonte: GOLD 2023 

Tratamento 

É importante constar que o tratamento farmacológico para a doença pulmonar obstrutiva crônica não pode acontecer sem o tratamento não farmacológico. os dois tratamentos devem acontecer simultaneamente, a fim de que ocorra uma diminuição da quantidade de exacerbações e uma melhora na qualidade de vida do indivíduo. 

Tratamento não farmacológico 

O tratamento não farmacológico se baseia nos seguintes aspectos: 

  • Suspender hábito do tabagismo;
  • Ter as vacinas do pneumococo, influenza, dTpa e COVID-19 atualizadas;
  • Realizar reabilitação pulmonar, de  forma multiprofissional;
  • Realização de atividade física de forma supervisionada; 
  • Oxigenoterapia domiciliar para pacientes com PaO2 menor que 55 e/ou SaO2 menor que 88%  na gasometria arterial 

Tratamento farmacológico

A escolha da terapia farmacológica vai ser adequada com a gravidade dos sintomas e nos riscos de exacerbação, por isso, deverá ser usado a escala ABE

  • GOLD A: Utilizar um broncodilatador de curta ação (SABA, ex: Salbutamol) ou de longa ação (LABA ou LAMA). Na prática, dar-se preferência ao uso do broncodilatador de longa
  • GOLD B: Utilizar a associação de dois broncodilatadores de longa ação (LABA + LAMA)
  • GOLD E: Nesse caso, deveremos nos apoiar nos exames laboratoriais para estimular o valor do eosinófilo do paciente
  • Para eosinófilos menor que 300: LABA + LAMA;
  • Para eosinófilo maior ou igual a 300: LABA + LAMA + Corticóide inalado


Além dessa terapia medicamentosa, deverá ser prescrito para todos os pacientes com DPOC o uso de um broncodilatador de curta ação, para o alívio de episódios esporádicos de dispneia. 

ATENÇÃO! Antes de progredir com o tratamento da DPOC, é importante que o profissional de saúde verifique se o paciente de fato tenha aderido adequadamente ao tratamento e que ele esteja utilizando os dispositivos inalatórios da forma correta. Por isso, recomenda-se que o médico sempre ensine ao seu paciente como utilizar o dispositivo, além de pedir para que ele demonstre como deve ser feito.  

Conclusão 

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica causa sérios impactos socioeconômicos para países como o Brasil, que possui uma população cada vez mais envelhecida. Ela deve ser suspeitada, principalmente, em pacientes idosos, apresentando tosse crônica e produtiva, dispneia aos esforços e história de exposição à fumaça. 

Seu diagnóstico será feito a partir do exame da espirometria com prova broncodilatadora, enquanto que seu tratamento será feito, principalmente, pelo uso de broncodilatadores e com a adesão de práticas que impeça pioras do quadro, como imunizações e exposição ao cigarro. 

Continue aprendendo:

FONTES:

  • Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global Strategy for the Diagnosis, Management and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease: 2024 Report. www.goldcopd.org www.goldcopd.org).
  • World Health Organization. The top 10 causes of death
  • COPD Assessment Test (CAT). COPD Assessment Test.
  • MORAES, Ricardo.  GOLD 2023: do ABCD para o ABE e impactos na terapia para o paciente - PEBMED
  • World Health Organization (WHO). Chronic obstructive pulmonary disease (COPD)
  • Puhan MA, Mador MJ, Held U, et al. Interpretation of treatment changes in 6-minute walk distance in patients with COPD. Eur Respir J 2008; 32:637.
  • DOURADO, Victor Zuniga et al. Manifestações sistêmicas na doença pulmonar obstrutiva crônica. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 32, p. 161-171, 2006.

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