A Diabetes é uma das Doenças Crônicas Não Transmissíveis mais comuns na população mundial, sendo diretamente relacionada a diversas complicações orgânicas nos pacientes. Contudo, durante o período de gestação deve haver um cuidado e acompanhamento maior, já que modificações fisiológicas deste período podem desencadear patologias, como a Diabetes Mellitus Gestacional (DMG), e repercussões fetais importantes.
O que é a diabetes gestacional?
A Diabetes Gestacional é definida como uma patologia endócrino-metabólica que ocorre durante o período de gestação, sendo caracterizada como uma disfunção de secreção insulínica pancreática em meio a uma resistência periférica à insulina exacerbada pela placenta e sua atividade contra insulínica.
Fatores de risco
Alguns fatores devem ser sempre analisados nas gestantes, pois aumentam o risco de uma hiperglicemia contínua e o desenvolvimento de DMG. Dentre eles, destaca-se:
- Idade (aumento progressivo do risco com o avançar da idade)
- Sobrepeso/Obesidade (IMC maior ou igual a 25 kg/m²)
- Antecedentes familiares de Diabetes Mellitus em parente de 1° grau
- Síndrome do Ovário Policístico
- Hipertrigliceridemia
- Hemoglobina glicada (HbA1c maior ou igual 5,7%)
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Fisiopatologia
A placenta é um órgão de extrema importância durante a gestação, não só para a genitora, mas principalmente para o feto. Isso porque é a única forma de suprimento sanguíneo para o feto e, portanto, nutricional, metabólico e imune.
Somado a isso, a placenta também é um órgão endócrino, ou seja, é capaz de produzir hormônios contra insulínicos que aumentam a resistência periférica à insulina, como hormônio lactogênio placentário (hPL) e o hormônio do crescimento placentário (hPGH). Contudo, a placenta apenas adquire tais funções a partir da sua maturação com 20 a 22 semanas de gestação e, por isso, algumas pacientes podem apenas desenvolver a DMG após esse período.
Fluxo diagnóstico da diabetes gestacional
O diagnóstico de Diabetes Gestacional ou de Diabetes Mellitus durante a gestação ocorre exclusivamente por meio de exames complementares, como Glicemia capilar e o Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG). Vale destacar a exclusividade da necessidade de realizar um TOTG apenas quando há uma normoglicemia na 1° consulta.
Tratamento Não farmacológico
Assim como a Diabetes fora da gestação, a diabetes gestacional também possui bases fisiopatológicas multifatoriais e, portanto, a conduta inicial para o controle glicêmico deve ser baseado em ajuste alimentar, visando maior consumo de alimentos saudáveis como verduras, legumes e frutas, além de prática regular de atividades físicas.
Isso porque, já é comprovada a eficácia de tais condutas em redução de glicemia e diminuição da resistência insulínica periférica conferindo, desse modo, menor necessidade de esforço pancreático na secreção da insulina. Tais condutas devem durar pelo menos 15 dias, associadas com monitorização glicêmica antes da decisão de escalonamento terapêutico para insulinoterapia.
Acompanhamento Glicêmico
A monitorização glicêmica através da glicemia capilar aferida pela própria paciente é a forma ideal e de extrema importância, uma vez que permite um seguimento clínico médico mais assertivo para escolha terapêutica mais adequada. A aferição de glicemia deve ocorrer da seguinte maneira:
- Diabetes prévio à gestação ou DMG com uso de insulina (DGA2): 7x/dia - jejum, pré-prandial (almoço e jantar), 1 hora pós prandial (café da manhã, almoço e jantar) e madrugada.
- DMG sem uso de insulina (DGA1): 4x/dia - jejum e 1 hora pós-prandial (café da manhã, almoço e jantar)
Tratamento farmacológico
Para aqueles pacientes com incapacidade de controle da glicemia com medidas não farmacológicas, a insulinoterapia é o tratamento mais adequado. Para isso, a insulina NPH (ação intermediária) e a insulina Regular (ação rápida) são as mais fisiológicas e com maiores estudos comprovando seus benefícios.
No esquema terapêutico, segundo pesquisas do HC-FMUSP, deve-se empregar na seguinte proporção: 2 ⁄ 3 Insulina NPH e 1 ⁄ 3 Insulina regular, com o cálculo das doses em 0,5 UI/Kg/dia. O uso de hipoglicemiantes orais, como metformina, ainda não é liberado para uso rotineiro na gestação pela falta de comprovações científicas quanto à sua passagem placentária para o feto e suas possíveis complicações tardias para o mesmo.
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Complicações da diabetes gestacional
Assim como em pacientes não gestantes, a Diabetes é uma doença de diversas repercussões e possíveis complicações. Porém, durante a diabetes gestacional impacta tanto a gestante como o feto. Algumas repercussões para a gestante são polidrâmnio e distúrbios hipertensivos associados, além de um maior risco de DMG em gestações futuras e de evoluir com Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) ao longo da vida.
Já para o feto, pode ocasionar macrossomia fetal, síndrome do desconforto respiratório, hipoglicemia, policitemia, icterícia neonatal, cardiomiopatia hipertrófica, obesidade, DM2 e doenças cardiovasculares.
Conclusão
Tendo em vista as diversas complicações maternas, mas principalmente fetais, relacionadas com a Diabetes, seja ela gestacional ou não, o diagnóstico e tratamento adequados são de simples execução e devem ser continuamente revisados pela comunidade médica, a fim de assegurar menores repercussões ao binômio mãe-feto.
Continue aprendendo:
- Diabetes Mellitus: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento
- Diabetes tipo 1: causa, sintomas e como tratar
- Relação entre a redução do nível de insulina e mudanças na densidade óssea: uma análise entre os subtipos da diabetes mellitus tipo 1
FONTES:
- Obstetrícia Fundamental, Rezende, 15° ed.
- Zugaib, M. (2023). Zugaib obstetrícia, 5° edição.
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