A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é associada com redução da função pulmonar e risco aumentado de exacerbações. A presença de exacerbação no paciente com DPOC predispõe ao surgimento de novas exacerbações, levando à piora da qualidade de vida, declínio funcional e maior mortalidade. Nesse contexto, terapias que visam prevenir agudizações são de extrema importância para o tratamento dessa patologia.
Um ensaio clínico randomizado investigou o uso do Dupilumab, um antagonista dos receptores de interleucinas 4 e 13 (que fazem parte da resposta inflamatória tipo 2), como tratamento adicional para o DPOC.
O entendimento da fisiopatologia da DPOC vem avançando com o passar do tempo, hoje entende-se que entre 20% e 40% dos pacientes apresentam inflamação do tipo 2, ou seja, mediada por eosinófilos, eles parecem apresentar um risco aumentado para exacerbações, maior reatividade das vias aéreas, maior remodelamento e hiperplasia de células da mucosa.
Metodologia do estudo sobre o tratamento adicional para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
O BOREAS Trial foi um estudo de fase 3, multicêntrico, randomizado, duplo-cego e placebo-controlado. Os pacientes que cumpriram os critérios de elegibilidade foram randomizados em uma proporção de 1:1 para receber Dupilumab 300 mg, subcutâneo, a cada duas semanas ou placebo, durante 52 semanas.
O desfecho primário foi a taxa anualizada de exacerbações moderadas-graves.
Critérios de elegibilidade
Pacientes fumantes ativos ou passados (carga tabágica de, no mínimo, 10 maços-ano) com diagnóstico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica nos últimos 12 meses. Eles estavam em uso de terapia tripla (LAMA-LABA e Corticoide inalatório) por pelo menos 3 meses, e contagem mínima de 300 eosinófilos/ mcL em amostra de sangue periférico.
Resultados do estudo sobre tratamento adicional para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
Ao total foram 939 pacientes foram randomizados, sendo a maior parte (84%) homens brancos, com idade média de 65 anos.
Pacientes sintomáticos e com alto risco de exacerbação, em uso de Dupilumab, apresentaram uma diminuição da taxa anual de exacerbações, em comparação com o grupo controle. O uso da medicação também trouxe melhora da qualidade de vida, relatada pelo próprio paciente, assim como melhora da função pulmonar (VEF1 Pré-broncodilatador). As diferenças entre os grupos foram notadas a partir da segunda e quarta semana de uso. Não houve diferença significativa em relação a frequência de efeitos adversos entre os grupos.
A diminuição do número de exacerbações é consistente com a fisiopatologia da inflamação tipo 2, o bloqueio dos receptores de interleucina 4 e 13 parece ser eficaz para a diminuição da reatividade das vias aéreas, assim como da hiperplasia e a maior produção de muco, com menos estreitamento bronquiolar, o que pode explicar a melhora do VEF1 nos pacientes em uso do Dupilumab.
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Conclusão e limitações
O Dupilumab parece ser uma terapia promissora para pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica e alto risco de exacerbações. No entanto, apesar do BOREAS Trial ser um estudo multicêntrico e internacional, a população negra e hispânica foi pouco representada, podendo interferir na capacidade de extrapolar esses resultados para essas populações.
Ademais, o número de exacerbações nos pacientes do estudo foi menor do que seria esperado, como o estudo ocorreu durante a pandemia de COVID-19, mudanças comportamentais podem explicar esse fato. Por fim, o Trial recebeu patrocínio da empresa que produz o medicamento, o que pode trazer alguns conflitos de interesse, apesar de a metodologia do estudo ser robusta.
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FONTE:
BHATT, Surya P. et al. Dupilumab for COPD with type 2 inflammation indicated by eosinophil counts. New England Journal of Medicine, 2023
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