A infecção de repetição do trato urinário inferior (ITUr) é definida como 2 ou mais episódios em 6 meses, ou 3 episódios em um ano. Os principais fatores de risco para recorrência são frequência de coito, padrões de limpeza genital, duchas e roupa íntima. Nesse contexto, o tratamento dessas infecções de repetição costumam ser realizados com medidas comportamentais, que apesar de serem recomendadas, pelo baixo risco de efeitos colaterais, possuem baixa evidência.
Outra medida de tratamento é a antibioticoterapia profilática em casos refratários, no entanto o risco de resistência bacteriana e efeitos colaterais causados pelos antibióticos, abrem espaço para a busca de novas formas de tratamento. Uma revisão de 2012 feita pela Cochrane demonstrou uma provável eficácia do uso da metenamina, como possível tratamento para ITUr, mas afirmava a falta de um ensaio clínico randomizado para melhorar a evidência. Em 2022 foi publicado o estudo ALTAR com o objetivo de tentar sanar essa lacuna.
Como foi realizado o estudo?
O estudo foi realizado entre os anos de 2016 e 2018 no Reino Unido, foi um estudo de não inferioridade, aberto, randomizado e multicêntrico. Foram incluídas 240 mulheres com infecção de repetição do trato urinário inferior, maiores de 18 anos. Foram excluídas mulheres com anormalidades corrigíveis do trato urinário, assim como aquelas com nefrolitíase.
As pacientes foram divididas em dois grupos:
- 1: Um grupo recebeu a profilaxia com antibioticoterapia;
- 2: O grupo intervenção recebeu o antisséptico urinário Metenamina, que é uma substância que quando filtrada pelos rins é convertida em formaldeído, que é bactericida.
O desfecho primário foi a ocorrência de ITU sintomática durante os 12 meses de tratamento.
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O que o estudo trouxe de novo?
Após um ano de intervenção, o grupo que utilizou a Metenamina 1 grama, 2 vezes ao dia, atingiu o critério de não inferioridade em relação a profilaxia com antibióticos. As medicações utilizadas foram cefalexina, nitrofurantoína e trimetoprim. Apesar da não inferioridade, o grupo intervenção apresentou uma taxa absoluta um pouco maior de ITU sintomática (0.49 episódios/ano a mais).
Apesar de ser uma diferença clinicamente não significativa, 4 pacientes foram internadas por ITU, sendo todas do grupo Metenamina. No entanto, a resistência bacteriana foi maior no grupo em uso de antibioticoterapia durante o período de intervenção.
Conclusão
A Metenamina se apresenta como uma boa opção para poupar o uso diário de antibióticos, e deve ser dada como opção, em decisão conjunta com a paciente, para o tratamento de infecção de repetição do trato urinário inferior. Apesar de disponível no Brasil, a Metenamina é comercializada em doses menores do que as utilizadas no estudo ALTAR.
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FONTE:
- HARDING, Chris et al. Alternative to prophylactic antibiotics for the treatment of recurrent urinary tract infections in women: multicentre, open label, randomised, non-inferiority trial. bmj, v. 376, 2022.
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