Por questões anatômicas, a população feminina é cerca de 50 vezes mais comumente acometida por Infecção do Trato Urinário (ITU), uma vez que a uretra é de menor comprimento em comparação à população masculina, bem como possui bactérias e fungos da flora vaginal também como origem de agentes infecciosos.
O que é definido como ITU?
A infecção do trato urinário (ITU) envolve a atividade de patógenos na uretra, próstata, bexiga e rins. Contudo, é de maior prevalência os acometimentos das últimas duas citadas, sendo essas denominadas respectivamente de cistite (ou ITU baixa) e pielonefrite (ou ITU alta)
A pielonefrite manifesta-se em casos mais complicados ou de disseminação bacteriana hematogênica. Em critérios laboratoriais, para a definição faz-se necessária a presença de mais de 100.000 unidades formadoras de colônia por mililitro de urina.
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Etiologia e fatores de risco
Tendo em vista que a via ascendente a partir da flora intestinal é a maneira mais comum de infecção, seguida de infecção pela via sanguínea em um contexto de bacteremia, as bactérias Gram-negativas são mais prevalentes, principalmente a Escherichia coli. Dessa forma, vale salientar os fatores de risco mais importantes para a população masculina e feminina:
Fisiopatologia
Como já mencionado, a via ascendente é a forma mais comum de desenvolvimento de infecção do trato urinário. Isso porque, devido a flora intestinal e vaginal ocorre uma colonização bacteriana na região perineal que, em contextos de risco (ex: após relação sexual), pode haver disseminação dos patógenos para as vias urinárias.
Nesse sentido, inicialmente, as estruturas baixas como uretra e bexiga são acometidas, mas em alguns pacientes (principalmente naqueles com maus hábitos urinários), ocorre ascensão para o parênquima renal através dos ureteres, ocasionando pielonefrite. Além disso, em cenários como de endocardite infecciosa, a bacteremia presente pode resultar também em pielonefrite, sendo denominado de pielonefrite secundária à disseminação hematogênica.
Quais os tipos de infecção do trato urinário?
Devido às possibilidades estruturais de infecção patogênica dentro do trato urinário, as infecções do trato urinário podem ser classificadas da seguinte maneira:
Uretrite
Quando há infecção apenas da uretra, seja de forma aguda ou crônica. Principalmente causada por patógenos sexualmente transmissíveis, como: Neisseria gonorrhoeae e Trichomonas vaginalis.
Cistite
Este tipo de infecção do trato urinário está restrita à bexiga, sendo o quadro mais simples no sexo feminino, mas com tendência à maior complexidade no sexo masculino, uma vez que pode envolver prostatite bacteriana crônica ou uso de instrumentação (ex: SVD).
Bacteriúria assintomática
A bacteriúria assintomática normalmente é diagnosticada ao acaso durante triagem de pacientes, sendo identificado alterações laboratoriais compatíveis com infecção do trato urinário em pacientes sem sintomas.
Síndrome Uretral Aguda
Esta síndrome é mais comum em mulheres e é caracterizada por uma clínica compatível com cistite (polaciúria, disúria ou piúria), mas sem evidências laboratoriais de colonização infecciosa.
Pielonefrite
A infecção do parênquima renal, a qual é resultado da ascensão bacteriana na população feminina (corresponde a 95% dos casos de pielonefrite), ou de obstrução do trato urinário com colonização bacteriana na população masculina.
Quadro Clínico
Por serem de maior prevalência, a cistite e a pielonefrite merecem destaque em seu quadro clínico. No contexto de cistite as queixas mais presentes envolvem: disúria, urgência miccional, polaciúria e dor em hipogástrio (não há febre na maioria dos casos). Já na pielonefrite, que geralmente se desenvolve após uma cistite, ela evolui com uma febre alta (acima de 38°C) associada com dor na região lombar (possibilidade de Sinal de Giordano positivo) e calafrios, sendo sinais mais sistêmicos característicos de tal infecção.
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Como diagnosticar a infecção urinária?
O diagnóstico da infecção do trato urinário deve ser confirmado apenas após análise laboratorial, sendo o sumário de urina (Urina tipo I - EAS) e a urocultura os principais exames. No caso do EAS, alterações como: nitrito positivo, piúria (> 8 leucócitos/mcl), hematúria microscópica e bactérias em unidades formadoras de colônias > 100.000/ml indicam infecção.
Já a urocultura deve ser solicitada apenas em casos de infecção do trato urinário complicada (ex: sexo masculino, imunossuprimidos, alterações anatômicas do trato urinário, alterações funcionais), objetivando a identificação de bactéria específica para um tratamento mais adequado.
Tratamento para a infecção do trato urinário
Para métodos terapêuticos é de extrema importância entender que o antibiótico precisa sempre estar presente nos quadros de ITU. Além disso, tratamentos cirúrgicos em associação são uma opção quando etiologias são estruturais (ex: obstrução uretral por hiperplasia prostática benigna). De forma a sumarizar as possibilidades terapêuticas, segue uma tabela:
Vale a pena destacar que nas situações não complicadas o acompanhamento ambulatorial com terapêutica via oral é mais adequado, enquanto que nas complicadas faz-se necessário o internamento do paciente para administração de fármacos de forma intravenosa. Nesse último cenário, após melhora clínica do paciente (normalmente ocorre dentro de 72h), pode haver mudança para terapia oral de modo a completar os 7 a 14 dias de tratamento.
Conclusão
Apesar das diversas formas de prevenção, como boa ingesta de água e micção frequente, as infecções do trato urinário são rotina na vivência médica uma vez que há diversos fatores de risco, especialmente na população feminina. Dessa forma, o diagnóstico correto com a terapêutica adequada é de extrema importância para evitar maiores gravidades devido a continuidade anatômica do trato urinário que facilita casos complicados.
Continue aprendendo:
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- Doença renal crônica: causas, sintomas, diagnóstico e tratamento
FONTES:
- Sociedade Brasileira de Nefrologia - Infecção do Trato Urinário
- Wagenlehner FME, Cloutier DJ, Komirenko AS, et al: Once-daily plazomicin for complicated urinary tract infections. N Engl J Med 380(8):729-740, 2019. doi: 10.1056/NEJMoa1801467
- Hooton TM, Roberts PL, Cox ME, et al: Voided midstream urine culture and acute cystitis in premenopausal women. N Engl J Med 369(20):1883-1891, 2013. doi: 10.1056/NEJMoa1302186
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