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Osteoporose: Fisiopatologia, Sintomas, Diagnóstico e Tratamento

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Equipe medclub
Publicado em
12/6/2024
 · 
Atualizado em
12/6/2024
Índice

A osteoporose é uma doença óssea relacionada, principalmente, com o envelhecimento da população e com as mulheres na pós-menopausa. Assim, como o envelhecimento é uma realidade cada vez maior no país e por ser uma das doenças que mais acometem mulheres, torna-se extremamente importante conhecer os seus fatores de risco, saber como diagnosticá-la e dominar as abordagens farmacológicas e não farmacológicas da doença. 

O que é a osteoporose? 

A osteoporose pode ser definida por uma deterioração da qualidade óssea, de forma sistêmica, causando uma redução na resistência dos ossos e, consequentemente, tornando a pessoa mais suscetível a fraturas espontâneas e traumas. 

Ela é uma doença bastante comum, principalmente em mulheres que passaram pela menopausa. Estima-se que 1 em cada 3 mulheres com mais de 50 possuem a doença. Por isso, é considerado um problema de mulheres idosas. Porém, está havendo um aumento no entendimento e manejo da doença em homens, apesar da doença ainda ser, muitas vezes, apenas ser diagnosticada quando o paciente sofre fraturas espontâneas ou recorrentes, em um estado mais avançado. 

Infográfico sobre os desafios da osteoporose no Brasil. Fonte: Internacional Osteoporosis Foundation (IOF), 2012
Infográfico sobre os desafios da osteoporose no Brasil. Fonte: Internacional Osteoporosis Foundation (IOF), 2012

Fisiopatologia da osteoporose

O esqueleto humano é formado pelo osso cortical (ou compacto) e pelo osso trabecular (ou esponjoso). O osso cortical, representa 80% do esqueleto e constitui a parte externa das estruturas ósseas, garantindo maior sustentação e proteção. Os ossos trabeculares, por sua vez, formam os outros 20%  e abrigam a medula vermelha. 

Corte histológico do tecido ósseo. Fonte: Histologia Básica ‍
Corte histológico do tecido ósseo. Fonte: Histologia Básica 

Como o processo de remodelação óssea acontece na superfície, ela se inicia na porção cortical. Entretanto, a porção trabecular é proporcionalmente bem mais remodelada se comparada ao osso compacto, uma vez que é mais ativa metabolicamente. Assim, as fraturas costumam acontecer mais no osso trabecular. 

ATENÇÃO! As fraturas mais frequentes ocorrem nas vértebras, fêmur proximal e rádio distal

As células do tecido ósseo são componentes importantes para a remodelação óssea. Os osteoblastos são responsáveis pela mineralização dos ossos, os osteoclastos pela reabsorção óssea e os osteócitos, por sua vez, são essenciais para a manutenção da matriz óssea. 

Ao final da adolescência, geralmente ocorre o pico de massa óssea, que é a quantidade máxima de massa óssea que uma pessoa possuirá durante a vida. Esse pico sofrerá influência por fatores genéticos (fator principal) e pela nutrição e hábitos de vida do indivíduo. Alimentos ricos em cálcio e vitamina D ajudam na manutenção desse pico ósseo, porém, geralmente em torno dos 30 anos de idade, passa a ocorrer uma perda progressiva de massa óssea. 

Existem diferenças tanto na formação quanto na perda óssea entre os sexos: 

Osteoporose nas mulheres 

As mulheres apresentam um maior declínio na massa óssea, principalmente após o período da menopausa, porque o estrogênio, um dos principais hormônios sexuais desse público, tem importante papel na remodelação óssea e a sua deficiência propicia uma maior reabsorção óssea comparado à formação.  

Osteoporose nos homens

Os homens possuem um pico de massa óssea 8% a 10% maior em relação às mulheres. Ademais, a degeneração óssea neste grupo também ocorre de forma mais lenta, fazendo com que as fraturas osteoporóticas ocorram, em média, 5 a 10 anos mais tarde do que em mulheres. Ainda assim, estima-se que a chance de um homem sofrer uma fratura osteoporótica durante a vida é maior que a do desenvolvimento de um câncer prostático. 

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Classificação da osteoporose

A doença pode ser primária ou secundária

  • Osteoporose primária: é a forma mais comum da doença, intrínseca ao metabolismo ósseo, diagnosticada na ausência de alguma doença de base
  • Osteoporose secundária: quando se relaciona com a presença de uma doença ou agressão ao organismo que causa essa perda óssea. Algumas dessas doenças são: neoplasias do sistema hematopoiético, doença celíaca, hiperparatireoidismo e hipercortisolismo. 
OSTEOPOROSE SECUNDÁRIA
Doenças endócrinas Hipogonadismo, hiperparatireoidismo, hipertireoidismo, hipercortisolismo, hiperprolactinemia.
Doenças gastrointestinais Doenças inflamatórias intestinais, doença celíaca, cirrose biliar primária, cirurgias de bypass gástrico, gastrectomias.
Outras doenças crônicas Artrite reumatóide, espondilite anquilosante, lúpus eritematoso sistêmico, doença pulmonar obstrutiva crônica, acidose tubular renal, hipercalciúria idiopática, mieloma múltiplo, doença metastática, mastocitose sistêmica, desordens hereditárias do tecido conjuntivo, osteogênese imperfeita, síndrome de imunodeficiência adquirida.
Desordens nutricionais Deficiência ou insuficiência de vitamina D, deficiência de cálcio, ingestão excessiva de álcool, anorexia nervosa, nutrição parenteral.
Outras Transplante de órgãos
Doenças e agravos que estão associados à osteoporose secundária. Fonte: Artrite Reumatóide

Fatores de risco da osteoporose

Existem vários fatores de risco que predispõem a ocorrência do problema. Eles podem ser divididos em fatores de risco menores e maiores

ATENÇÃO! Os principais fatores de risco são o baixo pico de massa óssea e a velocidade de perda óssea.

Fatores maiores 

  • Idade avançada 
  • Sexo feminino 
  • História pessoal de fratura na vida adulta 
  • História familiar de osteoporose 
  • Uso de Glicocorticoide 
  • Idade avançada 

Fatores menores 

  • Baixa ingestão de cálcio durante a vida 
  • Sedentarismo 
  • Alcoolismo 
  • Tabagismo 
  • Baixo índice de massa corpórea 

Quais os sintomas da osteoporose? 

Infelizmente, ela é uma doença silenciosa. Na sua fase inicial, costuma ser assintomática. Assim, quando o paciente começa a apresentar sintomas, como dores ósseas e fraturas, a perda óssea pode estar bastante avançada. 

Outros sintomas e sinais que poderão acontecer, além das dores, as quais podem ser difusas e com predominância noturna, são: cifose torácica, dor à percussão dos processos espinhosos e atrofia da musculatura paravertebral. 

Como diagnosticar?

A principal conduta inicial, quando se depara com um paciente com história clínica condizente, será a realização de uma anamnese e um exame físico detalhados. Torna-se bastante importante questionar história de fraturas e quedas, pessoal e na família;  uso de medicamentos (como uso crônico de glicocorticóides); doenças; fatores de risco para o problema; e história menstrual para as mulheres. 

Durante o exame físico, deve-se avaliar deformidades esqueléticas que podem ser decorrentes de microfraturas ou fraturas que não foram reconhecidas; perda de altura e cifose; o equilíbrio e presença de fragilidades de modo geral. 

Atualmente, o padrão-ouro para o diagnóstico se dá a partir da realização do exame da Densitometria Mineral Óssea (DMO), em que será avaliado a coluna lombar, colo do fêmur e porção distal do rádio. 

Nela será apresentada o valor do T-Score (comparação da massa óssea do paciente em relação a média da massa óssea de uma população jovem e saudável) e do Z-Score (compara a massa óssea do indivíduo com a média da massa óssea de uma população de mesma idade e sexo), expressas em desvio-padrão. Em relação aos valores de referência da densitometria, temos: 

  • Resultado normal: quando o T-Score está entre 0 a -1,0 DP; 
  • Osteopenia: quando o T-Score está entre -1 a 2,4 DP; 
  • Osteoporose: quando o T-score é de -2,5 DP ou menos.

ATENÇÃO! Será usado o Z-Score quando o paciente em questão for criança, adolescente, mulheres na menacme ou homens que tenham entre 20 e 50 anos. Assim, o valor considerado do Z-score para uma baixa massa óssea para a idade será ⋜ -2,0 DP

Exame de Densitometria Mineral Óssea (DMO) da coluna e fêmur. Fonte: Medicina Diagnóstica
Exame de Densitometria Mineral Óssea (DMO) da coluna e fêmur. Fonte: Medicina Diagnóstica

Exames laboratoriais também podem ser úteis, principalmente para diagnóstico diferencial. São eles: hemograma; velocidade de hemossedimentação, fosfatase alcalina, ureia, creatinina; cálcio; fósforo; eletrólitos; enzimas hepáticas e cálcio urinário de 24 horas. 

É preciso dizer também que a radiografia será inespecífica nas fases iniciais, podendo apresentar alguma evidência de fraturas apenas após uma perda de massa óssea superior a 30%

Indicações para as medidas de Densidade Mineral Óssea conforme o Consenso Brasileiro de Osteoporose 2012
Todas as mulheres de 65 anos ou mais
Mulheres em deficiência estrogênica com menos de 45 anos
Mulheres na peri e pós-menopausa (com um fator de risco maior ou dois menores)
Mulheres com amenorreia secundária prolongada (por mais de um ano)
Todos os indivíduos que tenham sofrido fratura por trauma mínimo ou atraumática
Indivíduos com evidências radiográficas de osteopenia ou fraturas vertebrais
Homens com 70 anos ou mais
Indivíduos que apresentam perda de estatura (maior que 2,5 cm) ou hipercifose torácica
Indivíduos em uso de corticoides por 3 meses ou mais (doses maiores que 5 mg de prednisona)
Mulheres com índice de massa corporal baixo (menor que 19 kg/m2)
Portadores de doenças ou uso de medicações associadas à perda de massa óssea
Para monitoramento de mudanças de massa óssea decorrente da evolução da doença e dos diferentes tratamentos disponíveis
Indicações para solicitação de uma DMO. Fonte: Consenso Brasileiro de Osteoporose

Tratamento para a osteoporose

O tratamento pode ser dividido em farmacológico e não farmacológico

Tratamento não farmacológico 

A prática do exercício físico, com o objetivo de fortalecer a musculatura, melhorar o equilíbrio e a postura do paciente; evitar o tabagismo, bebidas alcoólicas e o café em excesso; aumentar a ingesta de alimentos ricos em cálcio e a suplementação de vitamina D são alguns dos tratamentos não farmacológicos.

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Tratamento Farmacológico 

Basicamente, o tratamento medicamentoso é feito a partir da utilização de agentes anti reabsortivos e de estimuladores de formação óssea.

Agentes anti reabsortivos

  • Calcitonina: diminui a formação dos osteoclastos;
  • Terapia de reposição hormonal: para as mulheres na pós-menopausa. Os estrógenos inativam os osteoclastos e estimulam os osteoblastos. Contudo, é extremamente importante que esse tratamento seja feito de forma controlada , diante dos grandes riscos advindos desse tipo de terapia;
  • Bifosfonatos: diminuem a atividade dos osteoclastos e reduzem a sua vitalidade;
  • Ranelato de estrôncio: diminuem a reabsorção óssea e aumentam a absorção.

Estimuladores de formação óssea 

  • Paratormônio (PTH): indicado para aqueles com osteoporose de elevada gravidade. Na prática, não é muito utilizado pelo alto custo.

Vale salientar que, em casos de osteoporose secundária, além do tratamento da doença, será preciso também tratar a doença de base. 

Conclusão 

A osteoporose é uma das doenças que mais causa morbidade na terceira idade, principalmente para as mulheres. Porém, devemos ter em mente que a doença pode atingir pessoas de ambos os sexos e em qualquer idade, principalmente quando há possibilidade de o indivíduo ter alguma doença que predisponha essa patologia. 

Assim, é importante estar atento aos fatores de risco e à história do paciente, para que ele tenha um diagnóstico precoce e um tratamento multidisciplinar, com uma adequada terapia farmacológica alinhada com mudanças nos hábitos de vida. 

Continue aprendendo:

FONTES:

  • ORCES, Carlos H. Trends in osteoporosis medication use in US postmenopausal women: analysis of the national health and nutrition examination survey 1999-2000 through 2017-2018. Menopause, v. 29, n. 11, p. 1279-1284, 2022.
  • ZAPPALA, Renata Francioni Lopes. Aspectos Hormonais do Envelhecimento e Osteoporose em Homens: a saúde do homem levada a sério. Editora Dialética, 2022
  • BANDEIRA, Francisco; DANTAS, Wesdrey; BILEZIKIAN, John P. Controversies in the treatment of postmenopausal osteoporosis: How long to treat with bisphosphonates?. Archives of Endocrinology and Metabolism, v. 64, p. 331-336, 2020.
  • Camacho PM, Petak SM, Binkley N, et al. AMERICAN ASSOCIATION OF CLINICAL ENDOCRINOLOGISTS/AMERICAN COLLEGE OF ENDOCRINOLOGY CLINICAL PRACTICE GUIDELINES FOR THE DIAGNOSIS AND TREATMENT OF POSTMENOPAUSAL OSTEOPOROSIS-2020 UPDATE. Endocr Pract 2020 May;26(Suppl 1):1-46.
  • International Society for Clinical Densitometry. ISCD 2023 Adult Official Positions. ISCD 2023 Adult Official Positions.
  • DynaMed. Evaluation of Osteoporosis in Adults. EBSCO Information Services. 
  • LeBoff MS, Greenspan SL, Insogna KL, et al. The clinician's guide to prevention and treatment of osteoporosis. Osteoporos Int 2022 Oct;33(10):2049-2102, correction can be found in Osteoporos Int 2022 Oct;33(10):2243.

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