A osteoporose é uma doença óssea relacionada, principalmente, com o envelhecimento da população e com as mulheres na pós-menopausa. Assim, como o envelhecimento é uma realidade cada vez maior no país e por ser uma das doenças que mais acometem mulheres, torna-se extremamente importante conhecer os seus fatores de risco, saber como diagnosticá-la e dominar as abordagens farmacológicas e não farmacológicas da doença.
O que é a osteoporose?
A osteoporose pode ser definida por uma deterioração da qualidade óssea, de forma sistêmica, causando uma redução na resistência dos ossos e, consequentemente, tornando a pessoa mais suscetível a fraturas espontâneas e traumas.
Ela é uma doença bastante comum, principalmente em mulheres que passaram pela menopausa. Estima-se que 1 em cada 3 mulheres com mais de 50 possuem a doença. Por isso, é considerado um problema de mulheres idosas. Porém, está havendo um aumento no entendimento e manejo da doença em homens, apesar da doença ainda ser, muitas vezes, apenas ser diagnosticada quando o paciente sofre fraturas espontâneas ou recorrentes, em um estado mais avançado.
Fisiopatologia da osteoporose
O esqueleto humano é formado pelo osso cortical (ou compacto) e pelo osso trabecular (ou esponjoso). O osso cortical, representa 80% do esqueleto e constitui a parte externa das estruturas ósseas, garantindo maior sustentação e proteção. Os ossos trabeculares, por sua vez, formam os outros 20% e abrigam a medula vermelha.
Como o processo de remodelação óssea acontece na superfície, ela se inicia na porção cortical. Entretanto, a porção trabecular é proporcionalmente bem mais remodelada se comparada ao osso compacto, uma vez que é mais ativa metabolicamente. Assim, as fraturas costumam acontecer mais no osso trabecular.
ATENÇÃO! As fraturas mais frequentes ocorrem nas vértebras, fêmur proximal e rádio distal.
As células do tecido ósseo são componentes importantes para a remodelação óssea. Os osteoblastos são responsáveis pela mineralização dos ossos, os osteoclastos pela reabsorção óssea e os osteócitos, por sua vez, são essenciais para a manutenção da matriz óssea.
Ao final da adolescência, geralmente ocorre o pico de massa óssea, que é a quantidade máxima de massa óssea que uma pessoa possuirá durante a vida. Esse pico sofrerá influência por fatores genéticos (fator principal) e pela nutrição e hábitos de vida do indivíduo. Alimentos ricos em cálcio e vitamina D ajudam na manutenção desse pico ósseo, porém, geralmente em torno dos 30 anos de idade, passa a ocorrer uma perda progressiva de massa óssea.
Existem diferenças tanto na formação quanto na perda óssea entre os sexos:
Osteoporose nas mulheres
As mulheres apresentam um maior declínio na massa óssea, principalmente após o período da menopausa, porque o estrogênio, um dos principais hormônios sexuais desse público, tem importante papel na remodelação óssea e a sua deficiência propicia uma maior reabsorção óssea comparado à formação.
Osteoporose nos homens
Os homens possuem um pico de massa óssea 8% a 10% maior em relação às mulheres. Ademais, a degeneração óssea neste grupo também ocorre de forma mais lenta, fazendo com que as fraturas osteoporóticas ocorram, em média, 5 a 10 anos mais tarde do que em mulheres. Ainda assim, estima-se que a chance de um homem sofrer uma fratura osteoporótica durante a vida é maior que a do desenvolvimento de um câncer prostático.
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Classificação da osteoporose
A doença pode ser primária ou secundária
- Osteoporose primária: é a forma mais comum da doença, intrínseca ao metabolismo ósseo, diagnosticada na ausência de alguma doença de base
- Osteoporose secundária: quando se relaciona com a presença de uma doença ou agressão ao organismo que causa essa perda óssea. Algumas dessas doenças são: neoplasias do sistema hematopoiético, doença celíaca, hiperparatireoidismo e hipercortisolismo.
Fatores de risco da osteoporose
Existem vários fatores de risco que predispõem a ocorrência do problema. Eles podem ser divididos em fatores de risco menores e maiores.
ATENÇÃO! Os principais fatores de risco são o baixo pico de massa óssea e a velocidade de perda óssea.
Fatores maiores
- Idade avançada
- Sexo feminino
- História pessoal de fratura na vida adulta
- História familiar de osteoporose
- Uso de Glicocorticoide
- Idade avançada
Fatores menores
- Baixa ingestão de cálcio durante a vida
- Sedentarismo
- Alcoolismo
- Tabagismo
- Baixo índice de massa corpórea
Quais os sintomas da osteoporose?
Infelizmente, ela é uma doença silenciosa. Na sua fase inicial, costuma ser assintomática. Assim, quando o paciente começa a apresentar sintomas, como dores ósseas e fraturas, a perda óssea pode estar bastante avançada.
Outros sintomas e sinais que poderão acontecer, além das dores, as quais podem ser difusas e com predominância noturna, são: cifose torácica, dor à percussão dos processos espinhosos e atrofia da musculatura paravertebral.
Como diagnosticar?
A principal conduta inicial, quando se depara com um paciente com história clínica condizente, será a realização de uma anamnese e um exame físico detalhados. Torna-se bastante importante questionar história de fraturas e quedas, pessoal e na família; uso de medicamentos (como uso crônico de glicocorticóides); doenças; fatores de risco para o problema; e história menstrual para as mulheres.
Durante o exame físico, deve-se avaliar deformidades esqueléticas que podem ser decorrentes de microfraturas ou fraturas que não foram reconhecidas; perda de altura e cifose; o equilíbrio e presença de fragilidades de modo geral.
Atualmente, o padrão-ouro para o diagnóstico se dá a partir da realização do exame da Densitometria Mineral Óssea (DMO), em que será avaliado a coluna lombar, colo do fêmur e porção distal do rádio.
Nela será apresentada o valor do T-Score (comparação da massa óssea do paciente em relação a média da massa óssea de uma população jovem e saudável) e do Z-Score (compara a massa óssea do indivíduo com a média da massa óssea de uma população de mesma idade e sexo), expressas em desvio-padrão. Em relação aos valores de referência da densitometria, temos:
- Resultado normal: quando o T-Score está entre 0 a -1,0 DP;
- Osteopenia: quando o T-Score está entre -1 a 2,4 DP;
- Osteoporose: quando o T-score é de -2,5 DP ou menos.
ATENÇÃO! Será usado o Z-Score quando o paciente em questão for criança, adolescente, mulheres na menacme ou homens que tenham entre 20 e 50 anos. Assim, o valor considerado do Z-score para uma baixa massa óssea para a idade será ⋜ -2,0 DP.
Exames laboratoriais também podem ser úteis, principalmente para diagnóstico diferencial. São eles: hemograma; velocidade de hemossedimentação, fosfatase alcalina, ureia, creatinina; cálcio; fósforo; eletrólitos; enzimas hepáticas e cálcio urinário de 24 horas.
É preciso dizer também que a radiografia será inespecífica nas fases iniciais, podendo apresentar alguma evidência de fraturas apenas após uma perda de massa óssea superior a 30%
Tratamento para a osteoporose
O tratamento pode ser dividido em farmacológico e não farmacológico.
Tratamento não farmacológico
A prática do exercício físico, com o objetivo de fortalecer a musculatura, melhorar o equilíbrio e a postura do paciente; evitar o tabagismo, bebidas alcoólicas e o café em excesso; aumentar a ingesta de alimentos ricos em cálcio e a suplementação de vitamina D são alguns dos tratamentos não farmacológicos.
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Tratamento Farmacológico
Basicamente, o tratamento medicamentoso é feito a partir da utilização de agentes anti reabsortivos e de estimuladores de formação óssea.
Agentes anti reabsortivos
- Calcitonina: diminui a formação dos osteoclastos;
- Terapia de reposição hormonal: para as mulheres na pós-menopausa. Os estrógenos inativam os osteoclastos e estimulam os osteoblastos. Contudo, é extremamente importante que esse tratamento seja feito de forma controlada , diante dos grandes riscos advindos desse tipo de terapia;
- Bifosfonatos: diminuem a atividade dos osteoclastos e reduzem a sua vitalidade;
- Ranelato de estrôncio: diminuem a reabsorção óssea e aumentam a absorção.
Estimuladores de formação óssea
- Paratormônio (PTH): indicado para aqueles com osteoporose de elevada gravidade. Na prática, não é muito utilizado pelo alto custo.
Vale salientar que, em casos de osteoporose secundária, além do tratamento da doença, será preciso também tratar a doença de base.
Conclusão
A osteoporose é uma das doenças que mais causa morbidade na terceira idade, principalmente para as mulheres. Porém, devemos ter em mente que a doença pode atingir pessoas de ambos os sexos e em qualquer idade, principalmente quando há possibilidade de o indivíduo ter alguma doença que predisponha essa patologia.
Assim, é importante estar atento aos fatores de risco e à história do paciente, para que ele tenha um diagnóstico precoce e um tratamento multidisciplinar, com uma adequada terapia farmacológica alinhada com mudanças nos hábitos de vida.
Continue aprendendo:
- Osteoartrite: Fisiopatologia, quadro clínico e tratamento
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FONTES:
- ORCES, Carlos H. Trends in osteoporosis medication use in US postmenopausal women: analysis of the national health and nutrition examination survey 1999-2000 through 2017-2018. Menopause, v. 29, n. 11, p. 1279-1284, 2022.
- ZAPPALA, Renata Francioni Lopes. Aspectos Hormonais do Envelhecimento e Osteoporose em Homens: a saúde do homem levada a sério. Editora Dialética, 2022
- BANDEIRA, Francisco; DANTAS, Wesdrey; BILEZIKIAN, John P. Controversies in the treatment of postmenopausal osteoporosis: How long to treat with bisphosphonates?. Archives of Endocrinology and Metabolism, v. 64, p. 331-336, 2020.
- Camacho PM, Petak SM, Binkley N, et al. AMERICAN ASSOCIATION OF CLINICAL ENDOCRINOLOGISTS/AMERICAN COLLEGE OF ENDOCRINOLOGY CLINICAL PRACTICE GUIDELINES FOR THE DIAGNOSIS AND TREATMENT OF POSTMENOPAUSAL OSTEOPOROSIS-2020 UPDATE. Endocr Pract 2020 May;26(Suppl 1):1-46.
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