Artigo de revisão integrativa muito elucidativo foi publicado na revista Aging and Disease sobre uma possível relação da flora intestinal com o aumento do risco para doença cardiovascular. Isso porque estudos recentes evidenciaram que o desbalanço da microbiota intestinal induz a produção de metabólitos maléficos para o organismo, promovendo dano para a barreira intestinal e induzindo processos inflamatórios a nível sistêmico.
Dessa forma, os autores do artigo de revisão questionam a possibilidade da composição da flora intestinal atuar como um fator de risco para as doenças cardiovasculares (DCV). Eles mostraram que metabólitos produzidos pelo desbalanço da flora intestinal, como os lipopolissacarídeos (LPS) e o N-óxido de trimetilamina (TMAO), podem acelerar a progressão das DCVs.
Resultados
O trabalho cita estudos clínicos que relataram associação entre níveis séricos elevados de LPS e surgimento da placa aterosclerótica, sendo essa a principal responsável pelo surgimento das DCVs. Além disso, é referido que o TMAO pode atuar como um marcador para a presença de placas ateroscleróticas, podendo apresentar um efeito “dose-dependente” com a presença de placas nas artérias carotídeas. Ou seja, quanto maior a presença deste marcador, maiores as chances do paciente apresentar a placa.
E mais, os autores citam um outro estudo que identificou que níveis séricos de N-óxido de trimetilamina foram significativamente associados com a incidência de infarto agudo do miocárdio em mulheres saudáveis. De acordo com ele, esses achados podem ser justificados pela propriedade do TMAO de acelerar a senescência das células endoteliais através de processo inflamatório.
Limitações do estudo
Todavia, apesar de diversas pesquisas analisadas pelos autores apontarem para uma possível associação entre a disbiose e o aumento da atividade inflamatória, bem como o papel dessa na progressão para o surgimento das doenças cardiovasculares, esta revisão integrativa apresentou algumas limitações. Os ensaios clínicos analisados neste artigo apresentaram pequena amostra de pacientes, e os estudos transversais avaliados apresentaram resultados inconsistentes.
Dessa forma, mais estudos precisam ser realizados a fim de evidenciar uma correlação entre o desregulamento da flora intestinal com o surgimento de doenças cardiovasculares. Assim, os autores concluem que, com a descoberta dessa possível correlação, possivelmente poderão ser incluídos no manejo da profilaxia das DCV os probióticos e dietas individualizadas, por exemplo.
Vale salientar que, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte por doenças não transmissíveis no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 17.9 milhões de pessoas morreram em 2019, o que corresponde a 32% de todas as mortes a nível global. Para mais, os principais fatores de risco são a dislipidemia, a hipertensão arterial sistêmica e o diabetes mellitus (DM), bem como o tabagismo e o sedentarismo.
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FONTE:
- Zou, Yifei, et al. "Intestinal Flora: A Potential New Regulator of Cardiovascular Disease." Aging and Disease, vol. 13, no. 3, 2022, pp. 753-772
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