Hematologia
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Anemia Ferropriva: fisiopatologia, sintomas e diagnóstico

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Equipe medclub
Publicado em
6/6/2024
 · 
Atualizado em
6/6/2024
Índice

A anemia ferropriva é uma condição que ocorre quando uma deficiência de ferro progride para uma eritropoiese deficiente em ferro. Ela é a mais comum das anemias, representando 50% dos casos. Diante da sua prevalência global e seus riscos, torna-se extremamente importante entender essa condição, como manejá-la e, principalmente, como investigar a doença base que está por trás dessa anemia. 

O que é anemia ferropriva? 

A anemia é um estado caracterizado pela deficiência de ferro no organismo. É imprescindível entender que a anemia não é uma doença, e sim um distúrbio que pode indicar uma doença no indivíduo. Com isso, o diagnóstico e o tratamento não podem se limitar apenas à anemia, mas sim à sua causa base. 

Existem vários tipos de anemia, as quais podem ser classificadas de acordo com o tamanho das hemácias: anemias microcíticas (hemácias com tamanho reduzido, ex: anemia ferropriva); anemias normocíticas (hemácias de tamanho preservado, ex: anemia aplásica) e as anemias macrocíticas (hemácias de tamanho aumentado, ex: anemia por deficiência de B12).

A anemia ferropriva leva a uma redução na produção de hemoglobina e, consequentemente, uma insuficiência na capacidade de transportar oxigênio. Ela é considerada o principal tipo de anemia, especialmente diante da grande prevalência de deficiência de ferro nos grupos mais vulneráveis da sociedade. 

Imagem mostrando Incidência da deficiência de ferro em determinados segmentos populacionais
Incidência da deficiência de ferro em determinados segmentos populacionais. Fonte: Pfizer

Fisiopatologia da anemia ferropriva 

Para entendermos a fisiopatologia da anemia ferropriva, precisamos primeiro compreender o metabolismo do ferro. 

O ferro do nosso organismo é adquirido na dieta, através de duas formas: a forma heme, proveniente de alimentos de origem animal; e a não heme, presente em alimentos de origem vegetal. Ele é absorvido no Duodeno e no Jejuno proximal e a forma heme é a melhor absorvida, além de não sofrer influência de outras substâncias, diferentemente da forma não heme. 

A maioria do ferro é encontrada juntamente ao grupamento heme da hemoglobina. Contudo, uma parcela menor é encontrada nas proteínas ferritina e hemossiderina (armazenam o ferro), e cerca de 2% fica no plasma, junto à transferrina sérica (função de transporte).

A ferritina é a principal armazenadora de ferro, e quando não está ligada a ele, é chamada de apoferritina ou ferritina sérica

ATENÇÃO! A concentração de ferritina sérica é diretamente proporcional às reservas de ferro no organismo. 

Ilustração mostrando a estrutura da Hemoglobina
Estrutura da Hemoglobina. Fonte: Tua Saúde

Para a anemia ferropriva se instalar, antes deverá ocorrer um lento processo de depleção dos estoques de ferro, até que sejam consumidos todos os estoques do metal e, por conseguinte, uma eritropoiese deficiente. 

A depleção férrica poderá se dar por vários motivos, como aumento da necessidade de ferro (gravidez); diminuição da ingestão de ferro; diminuição da absorção de ferro (pode ser causado por uma série de doenças, como a doença celíaca) e perda de ferro por sangramentos (como perda de sangue menstrual e pelo trato gastrointestinal).

Vale salientar que os sangramentos agudos geralmente não estão associados à anemia ferropriva. 

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Sintomas da anemia ferropriva 

Os pacientes com este tipo de anemia podem ser assintomáticos, o que dificulta o seu diagnóstico. Contudo, os sinais e sintomas da anemia ferropriva, quando presentes, estão relacionados ao estado anêmico e à depleção de ferro. 

  • Sinais e sintomas relacionados à deficiência de ferro: glossite; queilite angular; escleras de coloração azuladas; esplenomegalia e pica (transtorno alimentar).
  • Sinais e sintomas relacionados à anemia: astenia; insônia; cefaléia e palidez cutâneo-mucosa.
Imagem ilustrando homem com síndrome de pica
Homem com síndrome de pica, transtorno alimentar que faz pessoa ter vontade de comer alimentos de baixo valor nutricional, como terra e gelo. Fonte: Marco Zero

Como é feito o diagnóstico da anemia ferropriva? 

Seu diagnóstico se dá quando a deficiência de ferro é acompanhada de anemia (baixo nível de Hb), mediante a realização do hemograma e do “laboratório do ferro”

Níveis de hemoglobina (Hb) que definem anemia de acordo com a Organização Mundial da Saúde: 

  • Para homens: Hb < 13 g/dL 
  • Para Mulheres grávidas: Hb < 11g/dL 
  • Para mulheres não-gestantes: Hb < 12 g/dL 

Na primeira fase dessa condição, geralmente será vista uma anemia leve, do tipo normocítica (VCM: 80-100 fL) e normocrômica (HCM: 26-34 pg). Na segunda fase, a anemia se tornará microcítica (VCM < 80 fL) e hipocrômica (HCM < 26 pg)

Como a anemia ferropriva também cursa com uma trombocitose, é necessário ficar atento à contagem de plaquetas acima de 450.000/mm3 .

Os principais testes para avaliar o ferro no organismo ocorrem a partir da dosagem da ferritina sérica, ferro sérico e pela capacidade total de ligação de ferro (TIBC). O diagnóstico de deficiência de ferro geralmente é feito quando os níveis séricos de ferritina estão abaixo de 15 mcg/L, na ausência de inflamação, ou abaixo de 100 mcg/L, na presença de inflamação, e saturação de transferrina abaixo de valores entre 16% e 20%

Tratamento para anemia ferropriva

Terapia dietética

A realização de uma dieta rica em ferro biodisponível pode ajudar na deficiência de ferro. Porém, a modificação de dieta não resolve os quadros de anemia ferropriva quando feita de forma isolada. 

Uso de Ferro Oral e intravenoso

O principal tratamento de escolha para a deficiência de ferro é a suplementação de ferro por via oral. A dose recomendada seria de 60 mg de ferro elementar, equivalente a 300 mg de sulfato ferroso, 3 a 4 vezes ao dia. Quando criança, a dose deve ser de 5 mg/Kg/dia de ferro elementar, em três doses. A administração de ferro de forma IV, por sua vez, deve ser usada como tratamento de escolha para os casos graves (Hb < 8 g/dL) e em casos de refratariedade à terapia oral com ferro.

Para que se atinja uma melhor absorção, recomenda-se que o uso de sulfato ferroso ocorra em jejum, cerca de 2 horas antes das refeições. Como foi dito, o grupamento não heme sofre influência de outros alimentos. Por isso, substâncias como ácido ascórbico melhoram a absorção do ferro, enquanto que proteínas como a caseína, encontrada no leite, e bebidas como chá preto, café e refrigerantes inibem a absorção desse tipo de ferro. 

Vale lembrar que o uso de sulfato ferroso pode causar efeitos colaterais, como diarreia e desconforto epigástrico. A fim de reduzir tais sintomas, o uso do sulfato poderá ser feito junto às refeições. 

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Conclusão 

A anemia é o estado clínico em que há uma queda da hemoglobina no sangue. Sempre quando confirmada, a anemia ferropriva deve ser suspeitada, por se tratar do tipo de anemia que mais acomete a população.

Seu diagnóstico se dá a partir da realização de hemograma e do estudo do ferro, e o tratamento se baseia, principalmente, em tratar a causa subjacente, normalizar a concentração de hemoglobina e repor as reservas de ferro, melhorando os sintomas e a qualidade de vida. 

Continue aprendendo:

FONTES:

  • MENDES, Evelyn Botrel et al. Revisão bibliográfica: anemia ferropriva em adultos/Literature review: iron-deficiency anemia in adults. Brazilian Journal of Development, v. 8, n. 4, p. 29595-29601, 2022.
  • AUERBACH, Michael. Causes and diagnosis of iron deficiency and iron deficiency anemia in adults. UpToDate, 2022.

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