O câncer de próstata é a neoplasia mais comum entre os homens (exceto o CA de pele não melanoma), especialmente aqueles acima de 50 anos, e a segunda mais letal. Trata-se de uma doença que, apesar de sua alta prevalência, ainda é cercada por muitos mitos e desinformação. Este artigo tem como objetivo esclarecer as principais dúvidas sobre o câncer de próstata, abordando desde os fatores de risco até as opções de tratamento disponíveis.
O que é o câncer de próstata?
A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino, localizada abaixo da bexiga e à frente do reto, responsável pela produção de parte do fluido seminal. O câncer de próstata ocorre quando células dessa glândula começam a se multiplicar de maneira desordenada. A maior parte dos tumores de próstata surgem da zona periférica e sendo o adenocarcinoma o tipo histológico mais prevalente (95% dos casos).
Este tipo de câncer pode variar desde formas indolentes, que progridem lentamente e podem não causar grandes problemas, até formas agressivas, que podem se espalhar rapidamente para outras partes do corpo.

Fatores de risco para o câncer de próstata
Diversos fatores podem aumentar o risco de um homem desenvolver câncer de próstata. Entre eles, destacam-se:
- Idade: O risco aumenta significativamente após os 50 anos, com a idade média de diagnóstico por volta dos 66 anos.
- Histórico familiar: Ter um parente de 1º grau, como pai ou irmão, com câncer de próstata dobra o risco.
- Etnia: Homens negros têm maior probabilidade de desenvolver e morrer de câncer de próstata do que homens de outras etnias.
- Genética: Alterações em genes específicos, como BRCA1 e BRCA2 e mutações em HOXB13, estão associadas a um risco aumentado.
- Dieta e estilo de vida: Dietas ricas em gorduras saturadas e a obesidade são fatores que podem contribuir para o risco.
Sintomas do câncer de próstata
A maior parte dos homens são diagnosticados como assintomáticos, por meio dos exames de rastreio. A presença de sintomas sugere doença avançada ou metastática. Dentre os sintomas presentes podemos destacar os seguintes:
- Dificuldade para urinar, incluindo um fluxo urinário fraco ou interrompido.
- Necessidade frequente de urinar, especialmente à noite.
- Sangue na urina (hematúria) ou no sêmen (hematospermia).
- Dor ao urinar ou ejacular.
- Dor persistente na região lombar, quadris e pelve.
O câncer de próstata pode evoluir para quadros metastáticos sendo os sítios mais comuns os linfonodos e os ossos, principalmente os ossos chatos da pelve e coluna vertebral, com os sintomas variando de acordo com o sítio de acometimento. É importante notar que esses sintomas podem ser causados por condições menos graves, como hiperplasia prostática benigna (HPB), mas qualquer alteração deve ser investigada.
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Como é feito o diagnóstico?
Ainda não existe consenso quanto ao rastreamento do CA de próstata. Em geral, recomenda-se realizar os exames de rastreio a partir de uma determinada idade, variando de 40 a 50 anos a depender dos fatores de risco apresentados pelo paciente. O diagnóstico do câncer de próstata geralmente envolve várias etapas:
Primeiro temos a suspeita inicial a partir de um toque retal alterado (presença de nódulo endurecido ou irregularidades), presença de sintomas ou elevação do PSA. O PSA é um antígeno produzido exclusivamente pela próstata, mas não é específico para CA de próstata, podendo se elevar em casos de infecções ou traumas.
Após a suspeita inicial, exames de imagens como a ressonância e a tomografia auxiliam na identificação de possíveis lesões e as classifica em graus de suspeita de malignidade por um sistema chamado PI-RADS. Em casos de suspeita consistente, deve-se indicar a biópsia de próstata para confirmação histológica, que pode ser realizada de forma transretal ou transperineal.
Por fim, para o estadiamento é solicitado exames como a cintigrafía óssea com tecnecio-99-MDP e a TC de abdome e pelve. Atualmente o PET-SCAN tem demonstrado uma melhor qualidade para detectar metástases.
Tratamento para câncer de próstata
O tratamento do câncer de próstata é altamente individualizado e depende de vários fatores, como a idade do paciente, o estado geral de saúde, o estágio e a agressividade do câncer, e as preferências pessoais. As opções terapêuticas possíveis serão discutidas nos tópicos abaixo.
Vigilância Ativa
Para muitos homens com câncer de próstata de baixo risco, a vigilância ativa pode ser a melhor opção. Este método envolve monitorar o câncer de perto com exames regulares de PSA, toque retal e, às vezes, biópsias. O objetivo é evitar tratamentos desnecessários e seus possíveis efeitos colaterais, intervindo apenas se o câncer mostrar sinais de progressão.
Cirurgia
Prostatectomia Radical: A cirurgia para remover a próstata é uma opção comum, especialmente para cânceres localizados. Existem diferentes técnicas cirúrgicas:
- Prostatectomia Retropúbica: Através de uma incisão na parte inferior do abdômen.
- Prostatectomia Perineal: Através de uma incisão entre o ânus e o escroto.
- Cirurgia Robótica: Um procedimento minimamente invasivo usando robôs assistidos, que podem oferecer uma recuperação mais rápida e menos dor pós-operatória.
A prostatectomia radical pode resultar em efeitos colaterais como incontinência urinária e disfunção erétil, mas avanços na técnica cirúrgica têm melhorado esses desfechos.
Radioterapia
A radioterapia utiliza radiação para matar células cancerígenas e pode ser administrada de duas formas principais:
- Radioterapia Externa: Feixes de radiação são direcionados à próstata a partir de uma máquina externa. Este tratamento é geralmente administrado cinco dias por semana durante várias semanas.
- Braquiterapia (Radioterapia Interna): Pequenas sementes radioativas são implantadas diretamente na próstata, emitindo radiação por um período de tempo.
A radioterapia pode ser usada como tratamento primário ou como terapia adjuvante. Efeitos colaterais podem incluir problemas urinários, intestinais e disfunção erétil.
Terapia Hormonal
A terapia hormonal, ou terapia de privação androgênica (ADT), reduz os níveis de hormônios masculinos (andrógenos), como a testosterona, que podem estimular o crescimento do câncer de próstata. Pode ser administrada através de medicamentos ou cirurgia para remover os testículos (orquiectomia).
- Agonistas e Antagonistas de LHRH: Medicamentos que reduzem a produção de testosterona pelos testículos.
- Antiandrógenos: Medicamentos que bloqueiam a ação da testosterona nas células cancerígenas.
A terapia hormonal é frequentemente utilizada em casos de câncer avançado ou metastático e pode ser combinada com outras formas de tratamento. Efeitos colaterais incluem perda de libido, impotência, ondas de calor e perda de massa óssea.
Quimioterapia
A quimioterapia utiliza medicamentos para matar células cancerígenas e é geralmente reservada para casos de câncer de próstata avançado ou que não respondem à terapia hormonal. Os medicamentos são administrados por via oral ou intravenosa.
- Docetaxel: Um dos medicamentos mais comuns usados na quimioterapia para câncer de próstata.
- Cabazitaxel: Usado quando o câncer não responde mais ao docetaxel.
A quimioterapia pode causar efeitos colaterais como fadiga, náusea, perda de cabelo e um maior risco de infecções.
Terapias Direcionadas e Imunoterapia
Avanços recentes na medicina têm levado ao desenvolvimento de terapias mais específicas e menos invasivas:
- Inibidores de PARP: Como olaparib e rucaparib, usados para tratar cânceres de próstata com certas mutações genéticas (BRCA1/2).
- Imunoterapia: Como sipuleucel-T, uma vacina terapêutica que estimula o sistema imunológico a atacar células cancerígenas da próstata.
- Radioterapia com Rádio-223: Utilizada para tratar metástases ósseas em câncer de próstata avançado.
Essas terapias oferecem novas esperanças para pacientes com câncer de próstata resistente a tratamentos convencionais.
Terapia Focal
A terapia focal é uma abordagem emergente que trata apenas a parte da próstata onde o câncer está localizado, minimizando danos ao tecido saudável. As técnicas incluem:
- Crioablação: Congelamento das células cancerígenas.
- HIFU (Ultrassom Focado de Alta Intensidade): Uso de ondas de ultrassom para aquecer e destruir o câncer.
A terapia focal é menos invasiva e pode ter menos efeitos colaterais do que a cirurgia ou a radioterapia.
Conclusão
O câncer de próstata é uma condição séria que afeta muitos homens ao redor do mundo. Compreender os fatores de risco, reconhecer os sintomas precocemente e seguir as recomendações médicas para diagnóstico e tratamento são fundamentais para aumentar as chances de cura e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Homens acima de 50 anos, ou aqueles com fatores de risco, devem conversar com seus médicos sobre a necessidade de exames regulares. A detecção precoce é crucial e pode fazer toda a diferença no manejo da doença.
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FONTES:
- Proteus : intensivão 2021 : reciclagem em urologia - 3. ed. - São Paulo : Planmark, 2021.
- Manual do Residente de Clínica Médica - 3. ed. - Santana de Parnaíba [SP] : Manole, 2023.
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