A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o nascimento normal como um trabalho de parto de início espontâneo entre a 37ª e a 42ª semana. Além disso, a gestação deve ser de baixo risco, e deve permanecer assim durante todo o pré-parto e o parto. Assim, neste texto abordaremos os principais conceitos da assistência ao parto normal.
O que é a assistência ao parto?
O diagnóstico de trabalho de parto é feito através da presença de contrações uterinas sequenciais, capazes de gerar mudanças plásticas no colo uterino e proporcionar a descida da apresentação fetal. Entretanto, esse diagnóstico muitas vezes pode não ser claro, dificultando sua identificação.
Como iniciar a assistência ao parto junto à equipe médica?
No primeiro passo da assistência ao parto recomenda-se que a internação hospitalar seja realizada após o início do trabalho de parto ativo, quando a gestante apresentar dilatação cervical de 4 a 6 centímetros. Ou ainda, quando houver ruptura das membranas ovulares, mesmo que ainda não haja nenhuma atividade uterina.
Após a internação, solicitam-se exames de rotina, como HIV e VDRL, e realiza-se a checagem de cultura para Streptococcus do grupo B, para avaliar eventual necessidade de profilaxia antibiótica. Além disso, verifica-se a tipagem sanguínea e o Rh da gestante, bem como todos os exames realizados durante o pré-natal. Por fim, recomenda-se o esvaziamento da bexiga, que pode ser feito por sonda, se necessário.
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Partograma
Para mais, o partograma deve ser iniciado quando a paciente iniciar o trabalho de parto ativo. Neste, há uma tabela para dilatação e outra para contração. A tabela para contrações deve ser preenchida de acordo com o tempo de contração, sendo as contrações vigorosas (≥ 40s) preenchidas em todo o retângulo.
Já nas contrações moderadas (20 a 39s), preenche-se apenas a metade do retângulo e, nas contrações fracas, marca-se o retângulo com um “X”. Ademais, é possível anotar o aspecto da bolsa (se íntegra ou rota), o aspecto do líquido amniótico, e o uso da ocitocina.
Na tabela das dilatações, ao lado direito, observa-se a altura da apresentação fetal de acordo com o plano De Lee. E mais, é traçada uma linha azul, denominada “linha de alerta”, que é desenhada imediatamente após o início do registro do partograma. E ainda, uma linha vermelha deve ser traçada com uma distância de 4 retângulos (4 horas) da linha de alerta, sendo ela denominada “linha de ação”.
Por fim, o triângulo desenhado neste eixo corresponde a dilatação cervical. E mais, são também descritas as posições da cabeça do bebê durante o trabalho de parto. Observe a imagem abaixo.
Quais são as fases da assistência ao parto?
Inicialmente, as fases da assistência ao parto são 3, há o período premonitório ou pródromo do trabalho de parto. Esse consiste em contrações uterinas irregulares, denominadas de Braxton-Hicks, associado a descida do fundo uterino em 2 a 4 centímetros e a liberação de uma secreção mucosa denominada tampão mucoso. E mais, ocorrem alterações no colo uterino.
Posteriormente, tem-se o início da fase latente do trabalho de parto, caracterizada por contrações uterinas mais regulares e modificações mais intensas do colo com uma dilatação que não ultrapassa 5 centímetros.
Já a fase ativa do parto é caracterizada pela dilatação cervical > 5 centímetros, associada a contrações irregulares e dolorosas. É dividida clinicamente em quatro períodos: dilatação, expulsão, secundamento - também denominado delivramento ou dequintação- e Grennberg.
1º Período: Dilatação
Na assistência ao parto, na fase ativa do parto, a dilatação corresponde ao início do trabalho de parto ativo, e termina após a dilatação total do colo (10 centímetros). Nessa fase, a paciente apresenta entre 3 e 4 contrações, de 30 a 40 segundos cada, durante um período de 10 minutos. Assim, torna-se fundamental a vigilância da atividade uterina e da frequência cardíaca (FC) de hora em hora.
E mais, a medição da temperatura e a pressão arterial (PA), bem como o exame vaginal, devem ser realizados a cada 4 horas. E ainda, a frequência da diurese também deve ser monitorada. A altura da posição fetal deve ser descrita de acordo com o plano De Lee, através do toque da espinha isquiática com um dedo, e do toque com o ponto mais inferior da cabeça do bebê com o outro.
Para mais, a paciente deve adotar a posição que for mais conveniente, e a deambulação deve ser livre. Entretanto, recomenda-se a posição verticalizada, que favorece o trabalho de parto.
A ausculta cardíaca fetal (ACF) deve ser realizada a cada 15 minutos em gestações de alto risco, e a cada 30 minutos em gestações de baixo risco. A dieta deve ser leve, podendo até mesmo ter líquidos claros, a depender do risco anestésico. Por fim, não são recomendados de rotina toques vaginais excessivos, tricotomia, amniotomia e enteróclise.
Analgesia
Neste período, deve-se iniciar a analgesia, podendo inicialmente ser utilizados métodos não farmacológicos, como a imersão em água, massagens, musicoterapia e a acupuntura, quando disponíveis. Entretanto, caso a paciente não obtenha alívio com essas medidas, deve-se iniciar a analgesia farmacológica, que pode ser medicamentosa ou regional.
A analgesia medicamentosa pode ser feita com óxido nitroso ou opioides. Entretanto, ambos medicamentos provocam náuseas, vômitos e têm efeito sedativo, podendo provocar depressões respiratórias nos recém-nascidos. Dessa forma, analgesias regionais são o método de escolha, que podem ser feitas pela analgesia peridural ou raquiperidural contínua.
Após a analgesia, a paciente deve ser orientada a não realizar esforços físicos de “empurrar” por pelo menos 1 hora. Deve-se monitorar a PA da gestante, e realizar a ACF de 5 em 5 minutos durante os 30 primeiros minutos após o procedimento. Isso porque a analgesia pode provocar bradicardia, diminuindo os batimentos cardíacos fetais. Por fim, idealmente, o nascimento deve ocorrer em até 4 horas após a analgesia.
Falha de progresso na fase ativa do parto
A falha de progresso na fase ativa do parto ocorre quando a dilatação é < 2 centímetros em 4 horas, ou se houver um progresso lento do trabalho de parto em mulheres multíparas. Além disso, a descida e a rotação do polo encefálico não ocorrem, e não são observadas mudanças na intensidade, duração e frequência das contrações uterinas.
Nesses casos, a amniotomia é o procedimento indicado por promover a liberação de prostaglandinas, que estimulam as contrações uterinas. Após o procedimento, deve-se examinar novamente a paciente após 2 horas. Caso a progressão da dilatação for ≤ 1 centímetro, determina-se que houve falha da progressão do trabalho de parto.
Após o diagnóstico de falha de progresso da fase ativa do parto, deve-se iniciar a ocitocina, ajustando-se a dose a cada 30 minutos, até o estabelecimento de 4 a 5 contrações em um período de 10 minutos. Após 4 horas do início da medicação, é preciso avaliar novamente. Em caso de progressão da dilatação < 2cm, considera-se uma cesária. Entretanto, se a dilatação é ≥ 2cm, realiza-se a conduta expectante.
2º Período: Expulsivo
O período expulsivo, na fase ativa do parto tem início após a dilatação total do colo (10 centímetros), e transcorre até a expulsão total do bebê. É considerado prolongado quando tem duração > 1 hora em mulheres multíparas e, em mulheres nulíparas, quando > 2 horas. Nessa fase, a gestante apresenta 5 a 6 contrações em período de 10 minutos, com duração de 50 a 60 segundos.
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Esse período é dividido em duas fases: passiva e ativa. A fase passiva corresponde a não necessidade da mulher em realizar contrações voluntárias para a saída do bebê. Já a fase ativa ocorre quando a gestante passa a sentir um desejo involuntário de realizar as contrações.
Nesse período, a ACF deve ser feita de 5 em 5 minutos. E mais, a episiotomia pode ser feita de forma eletiva, quando o fórceps for necessário. Além disso, iniciam-se as condutas para evitar dilacerações perineais, como o uso de compressas mornas e a técnica hands-on (manobra de Ritgen). Essa manobra consiste em usar uma mão para desacelerar a saída do bebê, e a outra, para comprimir o períneo. Observe a imagem.
Falha de progresso do período expulsivo
Deve-se suspeitar de uma falha de progressivo do período expulsivo quando esse tiver duração > 1 hora em nulíparas e > 30 minutos em multíparas. Entretanto, a intervenção apenas deve ser feita quando tiver duração > 2 horas para nulíparas e > 1 hora para multíparas.
Nesses casos, indica-se a realização da amniotomia e/ou injeção de ocitocina. Em caso de falha dessas medidas, deve-se partir para um parto operatório, que consiste no uso do fórceps/vácuo, ou realizar uma cesária.
3º Período: Secundamento
O secundamento, é o terceiro período da fase ativa da assistência ao parto, e corresponde ao descolamento e a expulsão da placenta, após aproximadamente 10 a 20 minutos da saída do bebê. Esse período é considerado prolongado quando a duração for > 30 minutos. Para mais, a OMS recomenda o manejo ativo do parto nesse período, que corresponde a medidas de prevenção à hemorragia pós-parto.
A principal medida de prevenção é o uso da ocitocina intramuscular na dose de 10UI. Além disso, recomenda-se a tração controlada do cordão, associada à manobra de Brandt-Andrews, que consiste na realização de uma pressão na região suprapúbica, com objetivo de estabilizar o útero e evitar a inversão uterina.
A reversão da contração uterina é feita através da manobra de TAXE, que consiste em colocar a mão no fundo uterino, reposicionando o útero de forma manual. Após isso, deve-se aplicar novamente a ocitocina, com objetivo de manter o útero posicionado da maneira correta.
Além disso, deve-se realizar o clampemento oportuno do cordão umbilical, após 1 minuto do nascimento. O clampeamento precoce é apenas indicado caso o bebê nasça com hipotonia, em casos de risco de policitemia, ou na presença de infecções maternas como HIV e hepatites.
Após o manejo ativo do parto, realiza-se a revisão do canal de parto, a fim de evidenciar possíveis lacerações, classificadas em graus de 1 a 4, de acordo com o exposto na tabela abaixo. Sendo identificadas devem ser suturadas com fio absorvível, e em sutura contínua.
4º Período: Grennberg
O último período da assistência ao parto na fase ativa do parto, período de Grennberg, corresponde à 1ª hora após o secundamento, em que ocorrem a maioria dos casos de hemorragia pós-parto. Nesse período, há a trombotamponagem, que corresponde a formação de coágulos nos vasos uterinos, e a miotamponagem, que corresponde a contração uterina que comprime os vasos, facilitando o estancamento do sangramento.
Para mais, há a formação do globo de segurança (globo de segurança de Pinnard), em que o útero permanece contraído, diminuindo as chances de sangramento. Passado o período de Grennberg, a paciente pode seguir para o alojamento conjunto com o seu bebê.
Conclusão
É de extrema importância na assistência ao parto a identificação de quando se inicia o trabalho de parto ativo, na verificação de exames realizados pela gestante durante o pré-natal, e no preenchimento do partograma. E mais, no reconhecimento das fases de assistência ao parto, e os riscos inerentes de cada uma dessas, bem como as medidas que devem ser tomadas para evitá-los.
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FONTES:
- REZENDE, J. F; MONTENEGRO, C. A. B. Obstetrícia Fundamental. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan LTDA, 2017.
- Tratado de Obstetrícia FEBRASGO / editores Cesar Eduardo Fernandes, Marcos Felipe Silva de Sá; coordenação Agnaldo Lopes da Silva Filho...[et al]. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
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