O reconhecimento das principais lesões elementares de pele e suas manifestações desempenham um papel crucial na prática clínica, fornecendo as ferramentas necessárias para diagnosticar uma variedade de condições cutâneas. Isso porque a compreensão das lesões elementares da pele constitui a base para a identificação e classificação de diversas patologias.
O que são as lesões elementares da pele?
As lesões elementares são causadas por modificações na pele devido a processos inflamatórios, degenerativos e circulatórios. Bem como processos neoplásicos, transtornos do metabolismo e defeitos de formação do tegumento. Assim, para avaliá-las, utiliza-se a inspeção e a palpação, bem como uma lupa para ampliar a visualização da superfície da pele.
Como são classificadas?
As lesões elementares da pele podem ser classificadas em: alterações de cor, elevações edematosas, formações sólidas e coleções líquidas. E mais, em alterações de espessura e perda e reparações teciduais.
Alterações de cor
As alterações de cor são evidenciadas através das máculas ou manchas, definidas pela presença de uma área circunscrita, de coloração diferente da pele normal, no mesmo plano do tegumento e sem alterações em sua superfície. Essas podem ser classificadas em pigmentares, vasculares ou hemorrágicas. E ainda, em depósitos de pigmentos orgânicos e exógenos.
Máculas pigmentares
As máculas são definidas como pigmentares quando decorrem de alterações da melanina. Assim, podem ser classificadas em hipocrômicas e/ou acrômicas, caracterizadas pela diminuição e/ou ausência de melanina, ou hipercrômicas, decorrentes do aumento da melanina.
As máculas hipocrômicas/acrômicas podem estar presentes em doenças como o vitiligo, a pitiríase alba e a hanseníase. Ou ainda, em doenças congênitas, como o nevo acrômico e o albinismo. Já as máculas hipercrômicas podem estar presentes em processos de cicatrização, em manchas hipercrômicas devido a estase venosa nos membros inferiores e na melanose senil.
{{banner-cta-blog}}
Máculas vasculares
As máculas vasculares decorrem de distúrbios da microcirculação do tegumento. Diferentemente das manchas hemorrágicas, desaparecem com a compressão da região com polpa digital (digitopressão). Para mais, essas são subdivididas em telangiectasias e em manchas eritematosas ou hiperêmicas.
Telangiectasias
As telangiectasias são caracterizadas pela dilatação dos vasos terminais: arteríolas, vênulas e capilares. Aquelas venocapilares são comumente visualizadas nos membros inferiores de pacientes do sexo feminino, sendo denominadas de microvarizes. Entretanto, também podem ser visualizadas em pessoas idosas.
Para mais, as aranhas vasculares, outro tipo de telangiectasia, são comumente localizadas no tronco, e são observadas na cirrose hepática.
Mancha eritematosa
Já a mancha eritematosa é uma das lesões elementares da pele mais visualizadas na prática médica. Tem coloração vermelho-rósea e, assim como outras lesões vasculares, desaparecem com a digitopressão. Para mais, as máculas hiperêmicas apresentam diversas conformações: podem ser esparsas ou confluentes e apresentam tamanho diversos.
Além disso, podem vir em conjunto com outras lesões, como pápulas, vesículas e bolhas. Assim, surgem em conjunto com as doenças exantemáticas (rubéola, sarampo, varicela), na escarlatina e na sífilis. E ainda, na doença reumática, nas septicemias e nas alergias cutâneas. Observe a imagem abaixo.
Máculas hemorrágicas
As lesões hemorrágicas, diferentemente das lesões vasculares, não desaparecem com a digitopressão. Isso porque elas decorrem da presença de sangue extravasado dos vasos. Assim, são classificadas de acordo com seu formato e tamanho em petéquias, víbices e equimoses.
Dessa forma, as petéquias são caracterizadas por manchas puntiformes com até 1 cm de diâmetro. Já as víbices tem formato de linha, e as equimoses são placas maiores que 1 cm de diâmetro. Para mais, a coloração das manchas hemorrágicas varia de vermelho-arroxeada a amarela, de acordo com o tempo de evolução da lesão.
Para mais, elas são comumente causadas por traumatismos e, quando esse produz uma elevação da pele, recebe o nome de hematoma. E mais, esses tipos de manchas também podem ser causadas por alterações capilares e discrasias sanguíneas e, nessas condições, recebe o nome de púrpura.
Depósitos de pigmentos orgânicos e exógenos
Os depósitos de pigmento podem surgir devido a deposição de hemossiderina, bilirrubina (icterícia) e do pigmento caroteno, decorrente da ingestão excessiva de alimentos com esse elemento, como o mamão ou a cenoura. Ou ainda, de corpos estranhos (tatuagem) e pigmentos metálicos (prata, bismuto).
Elevações edematosas
As elevações edematosas são decorrentes de edema na derme ou hipoderme. A principal representante é a urticária, caracterizada por ser uma formação sólida, uniforme, de formato variável - arredondada, ovalada ou irregular – e em geral eritematosa. Além disso, é sempre pruriginosa.
Formações sólidas
As formações sólidas correspondem às pápulas, tubérculos e nódulos. E mais, as nodosidades, as gomas e as vegetações.
Pápulas
As pápulas são lesões sólidas, de tamanho inferior a 1 cm de diâmetro, superficiais e bem delimitadas. Assim, diferem das petéquias justamente por seu componente de elevação sólida na pele. Podem apresentar diversas morfologias: puntiformes, lenticulares e coalescentes.
E mais, as pápulas podem ter diversas colorações, variando desde a coloração da pele normal até de cor rósea, castanha ou arroxeada. Além disso, diversas lesões de pele são manifestadas através das pápulas, como: picadas de inseto, leishmaniose, verrugas e erupções medicamentosas. E mais, acne, hanseníase e blastomicoses.
Tubérculos
Os tubérculos são elevações sólidas, circunscritas e com diâmetro > 1 cm. Estão localizados na derme, e apresentam consistência firme ou mole. Além disso, a pele adjacente pode apresentar coloração normal, bem como coloração eritematosa, acastanhada ou amarelada. Os tubérculos são característicos de diversas doenças, como a sífilis, tuberculose, hanseníase, sarcoidose e tumores.
Nódulos, nodosidade e goma
Os nódulos, a nodosidade e a goma são formações sólidas com origem na hipoderme, sendo mais perceptíveis na palpação do que na inspeção. Quando apresentam tamanho pequeno, são denominados nódulos e, quando mais volumosos, nodosidades. Já as gomas são nodosidades com característica de amolecimento e presença de ulcerações com eliminação de substâncias semissólidas.
Vegetações
As vegetações são lesões sólidas, em aspecto de “couve-flor”, de consistência mole. Entretanto, quando a camada córnea da pele é mais espessa, a lesão comumente apresenta-se como de consistência endurecida, sendo denominada de verrucosidade. Para mais, são exemplos de dermatoses por vegetações as verrugas, a sífilis, a leishmaniose e o condiloma acuminado. E mais, neoplasias e o granuloma venéreo.
{{banner-cta-blog}}
Coleções líquidas
As coleções líquidas podem ser classificadas em bolhas, vesículas, pústulas, abcessos ou hematomas.
Vesícula e pústula
A vesícula é definida como uma elevação circunscrita com líquido em seu interior, apresentando diâmetro maior ou igual a 1 cm. Já a pústula é definida como uma vesícula com líquido purulento em seu interior.
Bolha
Já a bolha é também definida como uma elevação circunscrita da pele com líquido em seu interior, entretanto, difere da vesícula por apresentar diâmetro > 1 cm. O líquido em seu interior pode ser de coloração clara, turvo-amarelado (purulento) ou vermelho-escuro (hemorrágico). E mais, pode ser evidenciada em queimaduras, alergias medicamentosas e no pênfigo foliáceo.
Para mais, os abcessos são coleções purulentas, proeminentes e circunscritas. Apresentam tamanhos variáveis, são comumente flutuantes, e estão localizados na hipoderme ou no subcutâneo. Por fim, o hematoma é uma formação circunscrita, de tamanho variado, decorrente do extravasamento de sangue na pele ou tecidos subjacentes.
Alterações de espessura
As alterações de espessura correspondem à queratose, ao espessamento ou infiltração e à liquenificação. E mais, a esclerose, o edema e as atrofias.
Queratose
A queratose decorre do espessamento da camada córnea, e é definida como uma modificação circunscrita ou difusa na espessura da pele, tornando-a mais consistente, dura e inelástica. Sendo o exemplo mais comum da queratose o calo. Observe a imagem e a representação abaixo.
Espessamento
Já o espessamento ou infiltração é caracterizada por um aumento da consistência e espessura da pele, com menor evidência dos sulcos do tegumento e limites imprecisos. Entretanto, a lesão se mantém depressível. O exemplo mais típico é a hanseníase virchowiana.
Liquenificação
Já a liquenificação é uma lesão elementar da pele caracterizada pelo espessamento da pele e das estrias, tornando a pele com coloração marrom-escura. Essa lesão promove a impressão de que a pele está sendo vista através da uma lupa, e é comumente visualizada em eczemas liquenificados e em áreas sujeitas a coçaduras constantes.
Esclerose, atrofia e edema
A esclerose decorre do aumento da consistência da pele, tornando-a mais firme e aderente aos planos profundos. Consequentemente, há dificuldade em preguear a pele entre os dedos. Assim, a esclerose tem como principal representante a esclerodermia.
Já o edema é caracterizado pelo acúmulo de líquido no espaço intersticial, promovendo um aspecto liso e brilhante na pele. Por fim, a atrofia é caracterizada pelo adelgaçamento da pele, tornando-a fina, lisa, translúcida e pregueada. É comum em indivíduos idosos, na atrofia senil.
Perdas e reparações teciduais
As perdas e reparações teciduais são caracterizadas por lesões devido à eliminação ou destruição patológica e reparação do tegumento. Seus representantes são a escama, a erosão ou exulceração e as fissuras. E mais, a crosta, a escara e a cicatriz.
Escamas
As escamas são lâminas de tecido epidérmico seco, que se desprendem da superfície cutânea. Quando descamam em formato de farelo, são denominados furfuráceas e, quando descamam em aspecto de tiras, em escamas laminares ou foliáceas. Diversos acometimentos na pele podem se manifestar com escamas, como a pitiríase versicolor, a psoríase e as queimaduras de pele por raios solares.
{{banner-cta-blog}}
Erosão
Já a erosão ou exulceração é caracterizada pelo desaparecimento da parte mais superficial do tegumento, assim, é acometida apenas a epiderme. Quando decorre de traumas, é denominada escoriação e, quando não traumática, pode ocorrer devido a ruptura de bolhas, vesículas e pústulas. E mais, após a regeneração, não deixam cicatrizes.
Úlceras
As úlceras são caracterizadas pela perda delimitada de camadas do tegumento, atingindo a pele e a derme. Assim, diferencia-se das escoriações devido ao acometimento da derme, bem como por deixar cicatrizes. Para mais, são exemplos de ulcerações a úlcera crônicas, as neoplasias e a leishmaniose.
Fissuras
As fissuras são caracterizadas pela perda linear, superficial ou profunda da derme e epiderme, que não é causada por instrumento cortante. É mais comumente situada em locais de dobras cutâneas ou ao redor de orifícios naturais. Observe a imagem e a representação abaixo.
Crostas
As crostas são caracterizadas pela formação proveniente do ressecamento de secreção serosa, sanguínea, purulenta ou mista, em locais previamente lesados na pele. São encontradas nas fases finais de processos de cicatrização, pênfigo foliáceo, eczemas e no impetigo.
Escara
A escara é a porção final de tecido cutâneo necrosado, e decorre da fricção e cisalhamento desse tecido. A área com escara é insensível, de coloração escura, e é separada de tecidos sadios por sulcos. Apresenta tamanhos muito variáveis, sendo mais comum em pacientes idosos ou imobilizados.
Cicatriz
Já a cicatriz é um tipo de lesão elementar de pele que corresponde a reposição de tecidos destruídos por tecido fibroso. Apresenta formatos muito variáveis, podendo ter coloração róseo-claras, avermelhada ou escura. Além disso, pode ser deprimida ou exuberante, sendo essa última representada pela cicatriz hipertrófica e pela quelóide.
Conclusão
Em conclusão, a habilidade de reconhecer e classificar as lesões elementares da pele é um pilar fundamental para a prática clínica eficaz. O estudo aprofundado dessas manifestações cutâneas proporciona aos estudantes de medicina e médicos uma base sólida para a compreensão das condições dermatológicas.
Leia mais:
- Feocromocitoma: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento
- Queimaduras: graus, manejo e tratamento
- Herpes-zóster: causas, sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento
FONTES:
- PORTO, C. C. Semiologia Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
- NETO, C. F., CUCÉ, L. C., REIS, V. M. S. Manual de Dermatologia. Barueri [SP]: Manole, 2019.
+400 de aulas de medicina para assistir totalmente de graça
Todas as aulas são lideradas por autoridades em medicina.