De acordo com a International Diabetes Federation (IDF), atualmente, um milhão e cem mil indivíduos menores de 20 anos apresentam diabetes mellitus tipo 1 (DM1), com cerca de 130 mil novos casos a cada ano. Além disso, acredita-se que a prevalência de diabetes tipo 1 seja de 0,5% a 1% da população geral e, nas últimas décadas, houve um aumento significativo de novos casos, especialmente em crianças < 5 anos.
O que é o diabetes tipo 1?
O diabetes mellitus (DM) representa um grupo de doenças metabólicas que apresentam diversas etiologias. Assim, é caracterizado por um estado hiperglicêmico, resultante de uma secreção insuficiente de insulina pelas células beta do pâncreas, ou de uma resistência periférica à insulina, ou ambas.
Para mais, essa hiperglicemia crônica é associada a danos em diversos órgãos, com destaque para os olhos, rins e sistema cardiovascular. A lesão nesses órgãos provoca redução da expectativa de vida desses indivíduos e uma elevada mortalidade. Em 2019, ocorreram 4 milhões de mortes decorrentes do problema, o que corresponde a uma morte a cada 8 segundos.
Assim, o diabetes tipo 1 é um dos tipos de DM, em conjunto com o diabetes tipo 2, o diabetes mellitus gestacional e outros tipos. Ele representa de 5% a 10% dos casos, e surge mais comumente na infância e adolescência, com pico entre 10 e 14 anos. E mais, apresenta dois principais tipos: autoimune (90% a 95%) e idiopático (5% a 10%).
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O que causa o diabetes tipo 1?
Como mencionado anteriormente, a maioria dos casos de diabetes tipo 1 decorre da destruição autoimune das células beta do pâncreas (DM1A). Essa destruição pode ser desencadeada pela agressão dessas células por fatores ambientais como as infecções virais, através da rubéola congênita, dos enterovírus e do sarampo, em pacientes geneticamente suscetíveis.
Amais, a suscetibilidade genética para desenvolver o problema decorre principalmente de um polimorfismo no complexo antígeno leucocitário humano (HLA), encontrado no cromossomo 6. Entretanto, apenas 5% dos pacientes com alelos de alto risco desenvolvem o DM1. Isso ressalta a importância de outros fatores para além da genética na fisiopatologia.
Assim, a destruição das células beta decorre da produção de anticorpos contra antígenos virais que mimetizam antígenos dessas células. Os principais autoanticorpos no diabetes tipo 1 são os anti-ilhotas (ICA) e anti-insulina (IAA), bem como o antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD). Esses autoanticorpos comumente precedem a hiperglicemia por meses a anos, em um estado denominado pré-diabético.
De acordo com a Diretrizes de 2023 da Sociedade Brasileira de Diabetes, existem 4 fases do DM1:
- Fase 1: múltiplos anticorpos positivos, glicemia normal, pré-sintomático
- Fase 2: múltiplos anticorpos positivos, hiperglicemia, pré-sintomático
- Fase 3: múltiplos anticorpos positivos, hiperglicemia, sintomático
- Fase 4: DM1 de longa duração
E mais, a velocidade de destruição das células beta é bastante variável, sendo mais acelerada em crianças que em adultos. Assim, a hiperglicemia permanente ocorre quando cerca de 90% das ilhotas de Langerhans, onde as células betas estão localizadas, são destruídas.
Já nos casos de DM1 idiopático (DM1B), há deficiência absoluta de insulina não imuno-mediadas, ou seja, não há produção de autoanticorpos. Assim, nestes casos não há associação com o HLA. Para mais, o DM1B apresenta uma herança forte, entretanto, a sua patogênese ainda é desconhecida.
Sintomas da diabetes tipo 1
Os sintomas clássicos da diabetes tipo 1 são os 4 P’s: a poliúria, a polidipsia, a perda de peso e a polifagia, e estão presentes em praticamente todos os casos. Entretanto, quando surge na vida adulta, o paciente geralmente não apresenta os sintomas clássicos da doença.
Além disso, a cetoacidose diabética (CAD) pode ser a manifestação inicial da doença em até 1/3 dos adultos e 2/3 das crianças, sendo o risco inversamente proporcional à idade do paciente. Assim, quanto mais nova a criança, maior o risco de apresentar a CAD como primeira manifestação clínica.
Diagnóstico
O diagnóstico do DM, de forma geral, pode ser dado em paciente em crise hiperglicêmica ou com sintomas clássicos de hiperglicemia, associado a glicose plasmática aleatória > 200 mg/dL, ou através de exames laboratoriais. Assim, duas dosagens da glicemia de jejum (GJ) > 126 mg/dL diagnosticam o paciente com DM.
E mais, outros métodos de diagnóstico do DM são o teste de tolerância oral à glicose (TOTG), cuja glicemia de 2 horas ≥ 200 mg/dL também diagnostica o DM. Ou ainda, a hemoglobina glicada (HbA1c) com valor ≥ 6,5%, sendo essa considerada o padrão-ouro na avaliação do controle glicêmico. Qualquer alteração deve ser confirmada por um segundo exame, realizado em outro dia, para firmar o diagnóstico.
Observe no gráfico acima a relação dos níveis da hemoglobina glicada com as lesões de órgão, decorrentes da hiperglicemia crônica. Essa relação justifica, como será abordado posteriormente neste artigo, a importância das metas glicêmicas baseadas nos níveis de HbA1c.
Por fim, a maioria dos casos de DM1 pode ser facilmente diferenciado do DM2 através dos dados clínico-epidemiológicos do paciente. Isso porque, diferentemente do diabetes do tipo 2, o paciente com o diabetes tipo 1 comumente apresenta IMC normal, maior tendência à cetose e, na imensa maioria dos casos, necessita de insulinoterapia plena no tratamento logo após o diagnóstico da doença.
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Como tratar o diabetes tipo 1?
Como mencionado anteriormente, o paciente com o diabetes tipo 1 apresenta deficiência completa na produção de insulina e, por isso, a insulinoterapia plena é o esquema de escolha para esses pacientes. Por isso, objetiva-se mimetizar ao máximo os padrões fisiológicos de secreção de insulina de indivíduos saudáveis, através do esquema basal-bolus.
Dessa forma, sabe-se que, em pacientes saudáveis, a secreção de insulina é realizada de forma contínua e em pequenas quantidades (insulina basal). Entretanto, todas as vezes que é realizada uma refeição, a glicemia é elevada, e as células beta necessitam secretar insulina de forma aguda, com o objetivo de manter a normoglicemia. Por isso, após cada refeição, faz-se necessário aplicar uma dose de insulina rápida ou prandial.
Conclusão
O diabetes tipo 1 é uma doença de etiologia predominantemente autoimune, que afeta principalmente pacientes jovens, e requer diagnóstico precoce e manejo cuidadoso. A educação contínua sobre o tratamento e a importância do monitoramento regular são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com DM1, permitindo a prevenção de complicações a longo prazo.
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FONTES:
- Silva Júnior WS, Gabbay M, Lamounier R, Bertoluci M. Insulinoterapia no diabetes mellitus tipo 1 (DM1). Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2023). DOI: 10.29327/557753.2022-5, ISBN: 978-85-5722-906-8.
- Cobas R, Rodacki M, Giacaglia L, Calliari L, Noronha R, Valerio C, Custódio J, Santos R, Zajdenverg L, Gabbay G, Bertoluci M. Diagnóstico do diabetes e rastreamento do diabetes tipo 2. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2023). DOI: 10.29327/557753.2022-2, ISBN: 978-85-5722-906-8.
- Pititto B, Dias M, Moura F, Lamounier R, Calliari S, Bertoluci M. Metas no tratamento do diabetes. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2023). DOI: 10.29327/557753.2022-3, ISBN: 978-85-5722-906-8.
- VILAR, Lucio. et al. Endocrinologia Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda, 2020.
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