A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é uma condição médica que se tornou uma crescente preocupação de saúde global nas últimas décadas. Esta condição afeta o fígado, órgão vital responsável por várias funções metabólicas, digestivas e desintoxicantes no corpo humano.
Ela é a doença hepática crônica mais comum no mundo, afetando 35% dos brasileiros, principalmente adultos sedentários, com alimentação inadequada, obesos e com comorbidades como diabetes e dislipidemias. Apesar de ser uma doença benigna e assintomática, alguns casos podem progredir para hepatite e cirrose.
O que é doença hepática gordurosa não alcoólica?
A DHGNA é uma condição médica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado de indivíduos que não apresentam histórico significativo de consumo de álcool. Essa condição ocorre quando o fígado não consegue metabolizar adequadamente as gorduras, levando ao acúmulo de triglicerídeos no tecido hepático.
A doença é geralmente associada a distúrbios metabólicos, como obesidade, diabetes tipo 2 e dislipidemias.
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Classificação
A doença hepática gordurosa não alcoólica pode ser classificada em dois estágios principais:
Esteatose Hepática
Este é o estágio inicial da DHGNA, caracterizado pelo acúmulo de gordura no fígado sem inflamação significativa. A esteatose hepática é geralmente assintomática e pode ser reversível com mudanças no estilo de vida, como a perda de peso e a adoção de uma dieta saudável e equilibrada.
Esteato-hepatite Não Alcoólica (EHNA ou, em inglês, NASH)
Este estágio é mais avançado e envolve inflamação no fígado. Pode evoluir para fibrose hepática, cirrose e, em alguns casos, carcinoma hepatocelular. Nem todos os pacientes progridem para esteato-hepatite não alcoólica, mas aqueles que o fazem enfrentam riscos significativamente maiores para a saúde hepática. Quando ocorre deposição de fibras de colágeno na NASH, já não é mais possível ocorrer a reversão da doença.
Quadro Clínico da doença hepática gordurosa não alcoólica
A maioria dos indivíduos são assintomáticos, no entanto, alguns podem apresentar fadiga persistente, desconforto abdominal, perda de apetite e dispepsia. No exame físico, é comum encontrar pacientes com sobrepeso ou obesidade, com sinais de resistência insulínica (acantose nigricans) e cerca de 10% a 20% deles podem apresentar hepatomegalia.
Como é feito o diagnóstico?
O rastreamento da doença hepática gordurosa não alcoólica é recomendado para pacientes obesos e diabéticos. O diagnóstico é estabelecido quando houver >5% de esteatose hepática no parênquima mais algum dos critérios a seguir:
- Diabetes Mellitus tipo 2
- Sobrepeso ou obesidade
- Critérios da síndrome metabólica: pré-diabetes, hipertensão, hipertrigliceridemia, HDL baixo e circunferência abdominal > 102 cm em homens ou > 88 cm em mulheres.
O achado de esteatose hepática é visto em USG abdominal como um clareamento do parênquima do fígado, onde podemos comparar com a ecogenicidade do parênquima renal, como na imagem abaixo.
Além do exame de USG abdominal e o lipidograma (colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos), os exames laboratoriais que devem ser solicitados são transaminases (TGO e TGP), bilirrubinas, albumina, hemograma, INR, ionograma e função renal, visto que, em caso de doença avançada, alterações nestes podem ser encontradas.
O FIB-4 calcula, a partir de critérios laboratoriais, o risco de fibrose. Os pacientes de baixo risco irão repetir o USG a cada 2 anos e os de risco intermediário devem realizar a elastografia hepática, por USG (fibroscan) ou ressonância, que avalia o nível de fibrose através dos scores da NAFLD e Metavir. Já aqueles de alto risco devem realizar biópsia.
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Diagnósticos diferenciais
Diagnósticos diferenciais são doença hepática alcoólica, medicamentosa, hepatites virais, hepatite autoimune e doenças de erros inatos do metabolismo. Descartar a hipótese de doença hepática alcoólica é importante, sendo relacionada a > 21 doses por semana para homens e > 14 para mulheres.
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Tratamentos para doença hepática gordurosa não alcoólica
O tratamento consiste em orientar a mudança de estilo de vida (alimentação saudável, prática de exercícios físicos e cessação do consumo de álcool), além de controle da diabetes e hipertensão. Como grande parte desses indivíduos são obesos, vale também considerar terapia medicamentosa para perda de peso (análogos de GLP-1) ou uma cirurgia bariátrica.
Pacientes com esteato-hepatite não alcoólica se beneficiam do uso de vitamina E e liraglutida (análogo de GLP-1). Em pacientes com esteato-hepatite não alcoólica e diabetes tipo 2, o uso do hipoglicemiante pioglitazona 30mg/d é muito benéfico, pois também reduz a esteatose, taxa de inflamação e fibrose hepática. Como efeitos colaterais temos o ganho de peso e maior risco de fraturas patológicas.
É importante lembrar que o uso de chás ou hepatoprotetores (engov, epocler, legalon, hepatopro, entre outros) não reduz a taxa de gordura e inflamação hepática pela doença hepática gordurosa não alcoólica.
Conclusão
A doença hepática gordurosa não alcoólica é uma condição hepática cada vez mais prevalente que afeta uma grande parcela da população em todo o mundo e pode ter consequências graves para a saúde.
Através da conscientização, prevenção e tratamento adequados, podemos enfrentar eficazmente esse desafio de saúde pública crescente e melhorar a qualidade de vida daqueles afetados pela doença hepática gordurosa não alcoólica.
Continue aprendendo:
- Síndrome Hepatorrenal: modificações no diagnóstico
- Hepatite fulminante: tem cura?
- Encefalopatia hepática: revisão das suas classificações, quadro clínico e diagnóstico
FONTES:
- Manual de Medicina Harrison – 20ª edição
- Patologia Robbins – 9ª edição
- JÚNIOR, A. Et al. Influência do grau de insuficiência hepática e do índice de congestão portal na recidiva hemorrágica de cirróticos submetidos a cirurgia de Teixeira-Warren.
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