Em fevereiro de 2022, um artigo de revisão de literatura pela New England Journal of Medicine abordou o tema relacionado ao manejo da febre de origem obscura (FOO). Atualmente, mesmo após a introdução de novos métodos diagnósticos, 51% dos casos de FOO permanecem sem definição da etiologia. As consequências disso são o uso excessivo de antibióticos, com crescente resistência microbiana e de aumento dos gastos públicos, com exames complementares desnecessários.
As principais características desse quadro são a febre de causa indefinida, apesar de extensa investigação etiológica, com duração suficiente para descartar uma possível febre autolimitada. Apesar de não existir um consenso para a definição dos critérios da FOO, os autores citam a presença de temperaturas superiores a 38.3 °C por mais de 3 semanas, mesmo após1 semana de avaliação hospitalar.
Apesar de não ser uma revisão sistemática, o artigo é muito elucidativo. Segundo os autores, a FOO pode ser classificada em clássica, nasocomial, por imunodeficiências e associada a viagens. Para mais, os autores enfatizam que a principal causa mundial da FOO ainda são as infecções, com destaque para a tuberculose, apesar do aumento da incidência por causas inflamatórias e autoimunes, sendo essas últimas correspondentes a 5 a 32% dos casos.
Além dessas, o câncer constitui importante causa de FOO (2 a 25%), tendo a produção de citocinas em respostas a agentes pirogênicos ou a necrose espontânea do tumor como as principais causas da febre. Em pacientes com câncer hematológico sob quimioterapia de indução, a febre é umsintoma universal, e esses indivíduos estão sobre maior risco de desenvolverem neutropenia grave (valores de neutrófilos inferiores a 500 células/microL). Por fim, o uso de medicações, destacando-se os antibióticos beta-lactâmicos, corresponde entre 3 e 7% dos casos de FOO.
Os autores concluem que a abordagem da FOO deve conter história clínica minuciosa, sendo avaliados viagens, dieta e medicamentos utilizados, e exame físicos bem detalhados, avaliando-se criteriosamente a pele, articulações e linfonodos. Associado a isso, deve-se iniciar o manejo da FOO com exames laboratoriais básicos, duas hemoculturas, sorologia para HIV, ecocardiograma, proteína-Creativa (PCR), hemograma completo e tomografias computadorizadas de tórax, abdome, pelve e demais regiões que se fizerem necessárias. Os autores enfatizam que exames laboratoriais desnecessários podem atrasar o diagnóstico correto, uma vez que muitas causas de FOO são “manifestações incomuns de doenças comuns”.
Por fim, não incentivam o uso de antibioticoterapia empírica e anti-inflamatórios no manejo inicial da FOO, porque podem atrasar o diagnóstico. São exceções para atraso do início da antibioticoterapia empírica, os indivíduos com febre associada a neutropenia, imunossupressão grave e deterioramento rápido do estado clínico.
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Fonte: New England Journal of Medicine
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