Clínica Médica
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Filariose Linfática: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

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Equipe medclub
Publicado em
20/11/2023
 · 
Atualizado em
14/3/2024
Índice

Além de estar presente na lista de doenças negligenciadas divulgada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a Filariose Linfática (FL) é considerada uma das maiores causas de incapacidade permanente devido a história natural da doença, mas também por sua associação com depressão em diversos pacientes, uma vez que a desconfiguração estética e o aspecto elefantoide podem estar presente.

O que é Filariose Linfática?

A filariose linfática é uma doença parasitária causada por um nematóide que invade a circulação linfática do indivíduo acometendo, principalmente, os membros inferiores. Ela tem recorrência de manifestações agudas, mas com possibilidade de cronicidade gerando consequências significativas à funcionalidade da região comprometida e podendo levar o paciente a uma incapacidade de longo prazo ou até mesmo permanente.

Epidemiologia

Por se tratar de uma doença de caráter tropical e subtropical, a Filariose Linfática tem maior prevalência em países das Américas, Ásia, África e em ilhas do Pacífico. Atualmente, apesar de estar em fase de eliminação no Brasil, a região Metropolitana de Recife, localizada em Pernambuco, ainda é considerada endêmica e, consequentemente, a mais impactada no país de maneira social e econômica devido à evolução da doença e as suas consequências nos pacientes.

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Etiologia e Ciclo Biológico

A filariose linfática é causada por um nematóide, sendo o mais comum o Wuchereria bancrofti (90% dos casos), seguido de Brugia malayi e Brugia timori. Tais vermes são transmitidos aos seres humanos através de um artrópode infectado, o Culex quinquefasciatus (pernilongo ou muriçoca). Por ser o hospedeiro definitivo do verme, o humano torna-se sede de sua maturação sexual e proliferação com produção de microfilárias a qual, neste caso, ocorre principalmente dentro da circulação linfática ou nos próprios linfonodos. Veja a imagem que ilustra seu ciclo biológico:

Imagem mostrando o ciclo biológico do Wuchereria bancrofti
Ciclo biológico do Wuchereria bancrofti. Fonte: Parasitologia, Fundamentos e Prática Clínica - R.S.B

Fisiopatologia

Assim que ocorre a invasão, o parasita causa um estímulo de resposta Th2 com aumento significativo de IgG4 e IgE, seguida por uma atividade imune Th1 com aumento de macrófagos, neutrófilos e eosinófilos, visando seu isolamento e fagocitose para a formação de granuloma

Contudo, tais vermes possuem características de combate ao sistema imune, podendo resistir e causar a cronicidade da infecção. Do contrário, a sua lise ocorre resultando na liberação de bactérias endossimbióticas, com aumento de interleucinas e da reação inflamatória, ocasionando as manifestações agudas da doença.

Quadro clínico da filariose linfática

A filariose linfática pode ser assintomática quando há uma infecção exclusivamente de microfilárias, mas pode tornar-se sintomática de forma aguda e/ou crônica. A linfangite e adenite filarial aguda são quadros recorrentes causados pela lise do verme adulto em que manifestações como hipertrofia linfonodal dolorosa, febre, astenia, mialgia, cefaleia e hidrocele aguda são comuns, bem como o edema agudo (regride com a reabsorção do granuloma). 

Porém, em cronicidade (30% dos casos) a doença adquire um caráter de linfedema crônico com distorção estética para um aspecto elefantoide (Elefantíase), podendo associar-se com quilúria, proteinúria e hematúria microscópica.

Diagnóstico da filariose linfática

Os principais métodos diagnósticos são os de visualização direta dos vermes, como:

  •  Microscopia de sangue filtrado ou centrifugado: a coleta deve ser feita  entre 22h e 2h da manhã, pois é o período no qual as microfilárias estão nos capilares superficiais;
  • Biópsia de tecido linfático: ela identifica a presença de células gigantes com eosinófilos e macrófagos formando o granuloma, bem como o verme;
  • Ultrassonografia (USG) de vasos linfáticos: pela qual percebe-se o sinal da dança da filária (SDF); e
  • Detecção de anticorpos (IgG4 e IgE) e de antígeno também podem ser realizados.
Imagem microscópica da microfilária do Wuchereria bancrofti, com pigmentação roxa
Visualização microscópica da microfilária do Wuchereria bancrofti. Fonte: Parasitologia, Fundamentos e Prática Clínica - R.S.B

Tratamento da filariose linfática

Tratamento da filariose linfática aguda

Tendo em vista a possibilidade de infecção com microfilárias e vermes adultos, a terapêutica principal no tratamento da doença aguda é a Dietilcarbamazina (DEC), a qual pode ser administrada 3 vezes ao dia por 12 dias, em doses de 2 mg/kg ou em dose única (preferível) de 6 mg/kg. Contudo, é essencial que antes do início do medicamento seja descartada a coinfecção de Onchocerca volvulus e de Loa loa, uma vez que a administração da DEC em uma infecção simultânea pode causar efeitos colaterais graves como cegueira e meningoencefalite, podendo ser fatal para o paciente. Nesses contextos, a medicação de 1° linha pode ser a Doxiciclina, bem como a Ivermectina e o Albendazol se tornam opções. 

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Tratamento da filariose linfática crônica

Diferentemente do quadro agudo, a doença em sua forma crônica possui mais características clínicas de linfedema crônico e algumas alterações renais, sem manifestações mais alarmantes. 

Portanto, a terapêutica é voltada para algumas medidas a fim de evitar infecções bacterianas concomitantes: higiene da área comprometida 2x/dia; higiene das unhas; cremes antibióticos; usar sapatos; praticar exercício regularmente e elevação dos membros a noite. Em alguns casos de infecção recorrente, deve ser considerada uma antibioticoprofilaxia.

Conclusão

Apesar de ser uma doença em eliminação no nosso país, a Filariose Linfática merece destaque pela magnitude de suas consequências, sejam elas de saúde, sociais e econômicas para os pacientes. A identificação da doença com o tratamento adequado associado ao controle populacional de sua disseminação deve ser prioridade, para que possamos interromper a incidência da doença em nossa população.

Continue aprendendo:

FONTES:

  • Filariose linfática (Elefantíase) - Ministério da Saúde;
  • Filariose linfática brancoftiana e brugiana - Manual MSD, versão para profissionais de saúde;
  • Parasitologia, Fundamentos e Prática Clínica - R.S.B;
  • Lymphatic filariasis: Treatment and prevention

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