A Otite Média Aguda (OMA) é uma doença que pode afetar indivíduos de qualquer idade, porém ela é muito frequente na infância, causando dor e sofrimento nas crianças acometidas e muita preocupação por parte de seus responsáveis. Diante de sua relevância e prevalência, estudar sobre a OMA e entender os principais pontos do seu manejo é essencial.
O que é a otite média aguda?
A otite média aguda, que também pode ser chamada de otite média purulenta ou supurativa, é uma infecção supurativa, que pode ser causada por um agente viral ou bacteriano, sendo responsável por causar uma inflamação na mucosa da orelha média, a qual se manifesta de forma aguda.
Ela é, essencialmente, uma doença de grande prevalência na Pediatria, uma vez que, em torno de 80% das crianças até os 2 anos de idade terão ao menos 1 episódio de OMA. Tal prevalência faz com que seja a maior causa de infecção pediátrica e a grande responsável pela prescrição de antibióticos na infância. Contudo, não podemos esquecer que, ainda que em menor número, ela também pode acontecer em adolescentes e adultos.
Etiologia da otite média aguda
Como foi dito anteriormente, a OMA pode ser causada por vírus ou bactérias.
- Principais patógenos bacterianos: Streptococcus pneumoniae; Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis (em ordem decrescente de frequência)
- Principais patógenos virais: vírus sincicial respiratório, adenovírus, influenza A ou B
Vale lembrar que os principais patógenos causadores da Otite Média Aguda poderão ser encontrados nas vias aéreas superiores do paciente. Para compreender isso, é importante conhecer os mecanismos fisiopatológicos da doença.
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Fatores de risco
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da otite média aguda são:
- Crianças com poucos anos de vida, por apresentarem uma imaturidade do sistema imunológico da anatomia da tuba auditiva, que acaba facilitando a colonização de patógenos. Estima-se, ainda, que o grande pico de incidência de OMA está entre 6 e 12 meses de idade.
- Frequentar ambientes que propiciam uma maior exposição à criança, como creches e escolas. Por isso, por volta de 5 a 6 anos de idade, ocorre um aumento da incidência da doença, por ser uma época de ingresso na escola.
- História familiar positiva para OMA, principalmente entre crianças que têm irmãos
- Exposição à fumaça de tabaco e poluição do ar
- Uso de chupeta, enquanto que a amamentação protege contra a OMA
Mecanismos fisiopatológicos
O ouvido médio está conectado com a via aérea superior através da tuba auditiva (trompa de Eustáquio), canal que conecta o ouvido médio à nasofaringe, e todo o sistema é revestido por uma mucosa de tipo respiratório. Entender isso é importante, uma vez que eventos que afetam uma área geralmente causam um desequilíbrio em todo o sistema.
O início da OMA geralmente está relacionado com uma infecção respiratória superior, que resulta na formação de um edema inflamatório da mucosa do nariz, nasofaringe e trompa de eustáquio. Esse edema acaba obstruindo a porção mais estreita da trompa de eustáquio, causando má ventilação e acúmulo de secreções produzidas pela mucosa do ouvido médio.
Assim, os vírus e bactérias, que colonizam o trato respiratório superior, entrarão no ouvido médio por aspiração, insuflação ou refluxo e irão encontrar um ambiente favorável para colonizar. Como uma resposta a infecção, ocorre um aumento na produção de muco e dilatação dos vasos sanguíneos para uma maior chegada de glóbulos brancos e anticorpos na área. Consequentemente, surge supuração no ouvido médio, além de uma série de manifestações sintomáticas no indivíduo.
Sintomas da otite média aguda
O principal sintoma que será observado na otite média aguda é a otalgia, de início súbito. Porém, outros sintomas podem surgir, como febre e uma otorreia súbita, que poderá ocorrer em casos de perfuração espontânea da membrana timpânica.
É preciso falar que, diante da baixa idade, os sintomas da otite supurativa podem não ser tão claros. Por isso, é preciso ficar atento aos sinais como irritabilidade, choro, recusa alimentar, e até mesmo vômitos e diarreia
Como diagnosticar?
Essencialmente, o diagnóstico é clínico e requer um ou mais dos seguintes achados:
- Abaulamento da membrana timpânica:
Estudos evidenciaram que crianças identificadas com abaulamento da membrana timpânica se beneficiaram mais da terapia antibiótica, uma vez que esse abaulamento está mais associado a um patógeno bacteriano
- Sinais de inflamação aguda, como membrana timpânica eritematosa, e efusão do ouvido médio
- Perfuração da membrana timpânica com otorreia purulenta aguda. Contudo, nesses casos, deverá ser excluída a otite externa aguda.
A otoscopia será a etapa fundamental do exame físico, em que, através do manuseio do otoscópio, poderá ser possível visualizar as estruturas internas do ouvido.
Tratamento da otite média aguda
Os sinais e sintomas latentes da otite média aguda podem melhorar espontaneamente em torno de 3 dias, enquanto que a resolução da efusão do ouvido médio ocorre por volta de 5 semanas. Porém, o tratamento da doença é aconselhado para minimizar os sintomas e acelerar a melhora do paciente por completo.
Manejo da dor
Como foi dito anteriormente, a otalgia é o principal sintoma, e o tratamento para reduzir a intensidade desse sintoma é essencial para o bem-estar do paciente, independentemente se elas vão ser tratadas com antibiótico.
O tratamento para gestão da dor será a partir de analgésicos orais, como ibuprofeno ou paracetamol.
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Terapia Antibiótica
Foi evidenciado que a administração de antibióticos acelera bem mais a resolução da otalgia e dos outros sintomas. Assim, as estratégias para o manejo da OMA em crianças devem incluir a administração imediata de antibióticos, mesmo que os efeitos colaterais relacionados ao uso dos antibióticos possam surgir em uma maior frequência, ou a administração tardia, somente se o quadro clínico do paciente piorar após 48 a 72 horas.
A antibioticoterapia imediata está associada a uma solução mais rápida dos sintomas, uma redução do risco de perfuração da membrana timpânica e redução da ocorrência de falha do tratamento. Dessa forma, a Academia Americana de Pediatria recomenda esse manejo nos grupos abaixos:
- Pacientes com risco aumentado de infecção grave, complicações e/ou recorrência, como: bebês com menos de 6 meses; pacientes imunocomprometidos; com aparência tóxica ou com anomalias craniofaciais.
- Pacientes sem risco aumentado de infecção grave, complicações e/ou OMA recorrente
A respeito da terapia antibiótica inicial, sugere-se o uso de amoxicilina ou amoxicilina-clavulanato como agentes iniciais. O uso de amoxicilina será mais indicado para aquelas crianças que não apresentem fatores de risco para o patógeno Haemophilus influenzae não tipável (HiNT) produtor de beta-lactamase, enquanto que a amoxicilina-clavulanato será para aqueles que apresentam esse fator de risco.
Dentre os fatores de risco para HiNT, é válido citar os seguintes:
- Ter recebido antibiótico betalactâmico nos últimos 30 dias
- História de OMA recorrente e que não responde à amoxicilina
- Conjuntivite purulenta concomitante à OMA
O tratamento para crianças com Amoxicilina deverá ser de 90 mg/Kg/dia, por via oral, dividido em duas doses, enquanto que o amoxicilina-clavulanato será de 90mg/Kg/dia de amoxicilina e 6,4mg/Kg/dia de clavulanato em duas doses. Ademais, aconselha-se que a terapia dure 10 dias para aqueles com menos de 2 anos ou para qualquer idade em casos de perfuração da membrana timpânica ou história recorrente de OMA.
A terapia pode durar de 5 a 7 dias para crianças com idade igual ou superior a 2 anos sem perfuração da membrana e história recorrente de OMA.
Conclusão
A otite média aguda (OMA) é uma infecção bastante comum em crianças, principalmente devido à imaturidade do seu sistema imunológico somada à exposição a ambientes como creches e escolas. Sua etiologia envolve tanto agentes virais quanto bacterianos e o seu diagnóstico é clínico, quando o profissional flagra sintomas como otalgia súbita e sinais compatíveis com a doença, como abaulamento e eritema da membrana timpânica. O tratamento visa aliviar a dor e acelerar a recuperação do paciente, e poderá ser feito com analgésicos e antibióticos.
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FONTES:
- Lieberthal AS, Carroll AE, Chonmaitree T, et al. The diagnosis and management of acute otitis media. Pediatrics 2013; 131:e964.
- WALD, Ellen R. Acute otitis media in children: Clinical manifestations and diagnosis. UpToDate. 2023
- Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4ª edição. Barueri SP: Manole, 2017
- Piltcher, Otavio, B. et al. Rotinas em otorrinolaringologia. (Série Rotinas). 2014.
- Rettig EM, Tunkel DE. Otite média aguda em crianças. In: Infecções de ouvidos, nariz, garganta e seios da face, Durand ML, Deschler DG (Eds), Springer International Publishing AG, Cham, Suíça 2018.
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