O covid-19 muitas vezes gera um quadro assintomático ou com poucos sintomas leves, especialmente febre, fraqueza e outros sintomas respiratórios como tosse seca e dispneia aos esforços. Porém, como a multiplicação do SARS-Cov-2 ocorre dentro de células com receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), que, apesar de estarem presentes em maior quantidade nos pulmões, estão espalhadas por todo o organismo, pode haver sintomas e complicações extrapulmonares e sistêmicas. Esses sintomas sistêmicos costumam aparecer após os sintomas mais típicos e duram pouco tempo, mas podem surgir antes ou até mesmo em fases posteriores com RT-PCR já negativado, como a fase subaguda (classificado como covid-19 persistente, 4 a 12 semanas após a contração da doença) ou crônica (síndrome pós-covid, que se mantém além de 12 semanas, podendo durar meses). Os fatores de risco para desenvolvimento dessas complicações são idade avançada, obesidade, gravidez e distúrbios de coagulação prévios.
É importante entender a patogenia da covid-19, que, além de gerar dano direto ao organismo (principalmente nos pneumócitos e células endoteliais), gera uma resposta imune exacerbada, com uma “tempestade” de citocinas, que inflamam diversos tecidos, ativam a cascata de coagulação e causam lesões microvasculares nos sistemas cardiovascular, neurológico, renal, ocular e endócrino. As complicações mais frequentes e preocupantes derivam de um estado de hipercoagulabilidade, gerando tromboembolismo venoso, embolia pulmonar, acidente vascular cerebral, trombose de cateter em até 1/3 dos pacientes com covid-19 em UTI, incluindo os que realizaram tromboprofilaxia. Para esses pacientes com indícios de tromboembolismo, é recomendada heparina de baixo peso molecular (HBPM) e anticoagulantes orais, que devem permanecer por 3 meses após a altar hospitalar.
Além disso, pode haver complicações cardíacas (arritmias por anormalidades metabólicas, síndrome coronariana aguda, agudização de insuficiência cardíaca congestiva), neurológicas (alcançam o sistema nervoso central pela mucosa nasal, gerando anosmia, ageusia, cefaleia, encefalopatias, síndrome de Guillain-Barré, e mais raramente, meningoencefalite. Há também possibilidade de afetar cronicamente o sistema nervoso, causando doenças neurodegenerativas), digestivas (maioria das vezes diarreia, anorexia, vômitos, que em apenas 3% dos casos surgem de forma isolada, sem os sintomas mais típicos), renais (lesão renal aguda pré-renal), cutâneas (urticárias, eritemas, vesículas, livedo reticular), e endócrinas (a tempestade de citocinas pode gerar apoptose das células beta pancreáticas, desenvolvendo resistência insulínica. Nos pacientes com diabetes prévio há maior risco de cetoacidose, enfermidade grave e morte).
Fonte: UpToDate
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