A prolactina (PRL) é um hormônio secretado pelo lactotrofo hipofisário, predominante no sexo feminino e com função principal de estimular a lactação, principalmente em um contexto gestacional e puerperal. Contudo, por depender de estímulo de neurotransmissores para a sua secreção, esse hormônio possui variações em sua concentração plasmática por fatores intrínsecos e/ou extrínsecos ao indivíduo, podendo estar em níveis aumentados e sendo definida como Hiperprolactinemia.
Mas calma, como ocorre a produção desse hormônio?
Como já dito, a PRL é um hormônio hipofisário, isto é, sofre influência de fatores estimulantes, como serotonina, Hormônio Liberador de Tireotropina (TRH), vasopressina e estrogênio, mas também inibitórios como GABA, somatostatina e, principalmente dopamina. Este último é o principal meio de inibição da PRL através de receptores D2R do eixo hipotálamo-hipófise e seu principal regulador. Dessa maneira, a prolactina é capaz de ser secretada ciclicamente no organismo e se torna sujeita a níveis aumentados a partir da mudança em seus mecanismos regulatórios.
O que é Hiperprolactinemia e como identificamos?
A Hiperprolactinemia não é uma doença, mas uma alteração laboratorial devido ao aumento exacerbado do hormônio prolactina, que pode ser identificado através de um nível laboratorial > 30 ng/dL e > 20 ng/dL em mulheres e homens, respectivamente, variando de intensidade de acordo com a etiologia. É uma condição mais prevalente no sexo feminino dos 25 aos 34 anos, e frequentemente relacionada com hipogonadismo hipogonadotrófico adquirido devido a sua influência supressora de GnRH no eixo hipotálamo-hipófise-gônada.
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O que pode causar sua alteração?
Dentre as possíveis etiologias para uma Hiperprolactinemia, devemos classificá-las em 3 grandes grupos: fisiológicas, medicamentosas e patológicas. Dentre as causas fisiológicas, as que merecem maior destaque são a gestação e a lactação, sendo estas relacionadas com o aumento hormonal de estrogênio.
Além disso, fatores episódicos como atividade física, dor, doença aguda, estimulação mamilar e sono são fatores que podem aumentar o nível de prolactina e confundir seu diagnóstico. Veja na tabela a seguir quais as alterações medicamentosas e patológicas:
Sintomas de hiperprolactinemia
A Hiperprolactinemia se manifesta a partir do surgimento de sinais de atividade exacerbada do hormônio PRL. A exemplo disso temos como os principais componentes do quadro clínico: Galactorreia, Hipogonadismo com queixas de infertilidade (ciclos menstruais anovulatórios), oligomenorreia, amenorreia e dispareunia (menor síntese estrogênica).
Para o sexo masculino, manifestações gonadais como redução de libido, disfunção erétil e oligoespermia podem surgir. Além disso, acne intensa e hirsutismo são sinais resultantes de maior nível de Testosterona livre devido à menor produção de globulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG). Vale ressaltar que pacientes com Macroprolactinemia (predominância da forma PRL chamada de macroprolactina) costumam ser assintomáticos pela sua baixa atividade biológica.
Como é feito o diagnóstico etiológico?
O diagnóstico inicia com uma anamnese adequada em busca de sintomatologia associada, fatores de risco e de fatores etiológicos modificáveis, como o uso de medicamentos e drogas ilícitas, além de descartar as causas fisiológicas. Em seguida, deve-se solicitar exames laboratoriais para dosagem da prolactina juntamente com TSH, T4L e B-HCG devido a relação direta da hiperprolactinemia com aumento de TRH e amenorreia, respectivamente.
Descartadas tais etiologias, a união entre exame físico - para identificação de manifestações neurológicas ou sistêmicas focais como alterações visuais e cefaléia - e exames de imagem, preferencialmente RM de hipófise, permite a identificação de possível causa patológica como o prolactinoma.
Os níveis de PRL costumam nos indicar a provável hipótese diagnóstica, uma vez que PRL > 200 ng/dL indicam a presença de prolactinoma, já que seu tamanho é diretamente proporcional ao nível secretado de prolactina. Para isso, temos a referência de que Microprolactinomas (<10mm) resultam em PRL 100-200 ng/dL, enquanto que Macroprolactinomas (maior ou igual a 10mm) se relacionam com PRL que pode ultrapassar 500 ng/dL. Em contrapartida, etiologias não prolactinomas raramente causam PRL > 200 ng/dL.
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Tratamento
A terapêutica mais recomendada para todas as causas de hiperprolactinemia é a administração de medicamentos agonistas dopaminérgicos como primeira linha, sendo a Cabergolina (maior eficácia e menos efeitos colaterais) e a Bromocriptina os maiores exemplos. Contudo, vale ressaltar que em situações de galactorreia isolada não há recomendação de tratamento, apenas se houver incômodo por parte da paciente.
Em se tratando de um prolactinoma, tais fármacos também possuem a capacidade de reduzir o tamanho do adenoma, diminuindo seu efeito compressivo e as chances de um tratamento cirúrgico.
No entanto, principalmente no Macroadenoma, a cirurgia transesfenoidal é uma opção em caso de resistência ao medicamento para resolução definitiva, visando impedir a continuidade da sua expansão pelo Sistema Nervoso Central. Em se tratando de causas não adenomatosas, faz-se necessário a individualização do tratamento para a etiologia específica com consequente correção dos valores de prolactina.
Conclusão
A hiperprolactinemia é uma condição de diversas etiologias que pode gerar sintomatologias neurológicas e hormonais, podendo repercutir com infertilidade em mulheres jovens. Dessa maneira, uma pesquisa minuciosa para a identificação e tratamento de sua causa é de extrema importância para que níveis hormonais adequados sejam restabelecidos.
Continue aprendendo:
- Anamnese ginecológica: o que é, qual a importância e como fazer
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- Insônia: causas, sintomas e diagnóstico
FONTES:
- Endocrinologia Clínica, Lucio Vilar, 7° ed.
- Causes of hyperprolactinemia, UptoDate
- Clinical manifestations and evaluation of hyperprolactinemia, UptoDate
- Management of hyperprolactinemia, UptoDate
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