Estudo muito elucidativo sobre o uso de probióticos como possível terapia adjunta no tratamento da diarreia aguda no público infantil foi recentemente publicado na revista Nutrients. A diarreia é uma condição comum entre crianças, definida como três ou mais episódios de evacuação em 24 horas, e classificada como aguda se a duração for inferior a 14 dias. Além disso, é responsável por mais de 500.000 mortes por ano, em sua maioria em países em desenvolvimento.
Apresenta diversas etiologias, sendo a infecciosa a mais comum. Os patógenos rotavírus, norovírus (calicivírus), astrovírus, coronavírus e adenovírus entéricos são os mais prevalentes na pediatria. Para mais, a diarreia pode provocar diversas complicações, como a desidratação, desnutrição, retardo no desenvolvimento do peso e da estatura, bem como retardo no desenvolvimento cognitivo. O uso da terapia de reposição oral (TRO) é a principal medida no tratamento da diarreia aguda, todavia, a TRO não consegue restaurar a microbiota intestinal. Visto que a disbiose é um dos principais mecanismos da diarreia, o uso de probióticos é proposto por melhorar a função intestinal, a imunidade e a barreira de proteção do intestino e, dessa forma, possivelmente reduzirá a duração do quadro diarreico. Entretanto, seu uso na pediatria ainda não é um consenso.
O estudo publicado foi uma metanálise com abordagem bayesiana. Foram incluídos estudos que preenchiam os seguintes critérios: 1) indivíduos ≤ 18 anos; 2) pacientes com diarréia aguda; 3) prescrição de placebos, probióticos ou nenhum tratamento, de forma randomizada; 4) a descrição no estudo de pelo menos um dos seguintes desfechos: duração da diarreia, duração da hospitalização, número de pacientes com diarreia com duração > 2 dias, duração da febre, ou duração dos episódios de vômito. Foram excluídos da amostra: 1) estudos de língua não inglesa; 2) estudos não randomizados; 3) estudos com crianças desnutridas; 4) estudos sem crianças; 5) estudos sem diarreia aguda; 6) relatos de caso; 7) revisões; 8) metanálises; 9) estudos com animais; 10) estudos in vitro; 11) cartas; 12) resumos de conferências. O artigo analisou 84 artigos, dos quais 23 foram realizados em países de alta renda, 34 em países de baixa renda, 25 em países de média renda, e 2 estudos multicêntricos. A amostragem total foi de 13.443 crianças, sendo a maioria com idade inferior a 5 anos.
O artigo trouxe excelentes observações sobre o uso de probióticos na diarreia aguda no público infantil. Os autores afirmam que, comparado com placebo, os probióticos L. reuteri e Lactobacillus spp. + Bifidobacterium spp. + Saccharomyces spp. reduziram significativamente a duração da diarreia. Além disso, o probiótico LGG apresentou maior probabilidade de reduzir o tempo de hospitalização. E mais, que apenas o probiótico Lactobacillus spp. + Bifidobacterium spp. + Saccharomyces spp. conseguiu reduzir a duração dos vômitos, quando comparados com os outros grupos controle. Para mais, os autores enfatizam que o probiótico S. boulardii pode ser o probiótico mais eficiente na redução da duração da diarreia ≥ 2 dias e na redução da frequência média de evacuações no 2º dia, com evidências moderadas. Bem como na redução da duração de hospitalizações, com evidências fracas. Dessa forma, os autores recomendam o S. boulardii como o melhor probiótico no tratamento da diarreia aguda em crianças.
Entretanto, o estudo apresentou algumas limitações, como a não avaliação da eficácia dos probióticos em crianças desnutridas, bem como a eficácia de diferentes doses de probióticos e seus efeitos no tratamento de crianças com diarreia aguda. Assim, mais estudos precisam ser desenvolvidos para avaliar a eficácia dos resultados elucidados pelos autores.
Referência:
- Li, Zengbin, et al. "Which Probiotic Is the Most Effective for Treating Acute Diarrhea in Children? A Bayesian Network Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials." Nutrients, vol. 13, no. 12, 2021, https://doi.org/10.3390/nu13124319.
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