A Colite Ulcerativa, também conhecida como Retocolite Ulcerativa (RCU), juntamente com a Doença de Crohn (DC), faz parte das chamadas “Doenças Intestinais Inflamatórias”. Essa doença, que apresenta caráter idiopático e crônico, se caracteriza por recorrentes inflamações na mucosa do cólon. Neste estudo, iremos revisar os principais aspectos da colite ulcerativa, assim como sua manifestação clínica, patogênese, seu diagnóstico e possíveis tratamentos.
O que é retocolite ulcerativa?
Por definição, a retocolite ulcerativa é uma condição clínica inflamatória e crônica na região da camada mucosa do cólon. Geralmente, as regiões mais afetadas são as mais distais, ela tipicamente afeta o reto, progredindo de forma ascendente.
Infelizmente, sua etiologia ainda é bastante obscura. O que se sabe, no entanto, é que ela se relaciona com um desequilíbrio na regulação da imunidade da mucosa intestinal, e que apresenta um forte fator genético associado, uma vez que parentes de primeiro grau de pessoas acometidas pela RCU chegam a ter até 20 vezes mais chance de apresentar a doença se comparado à população geral.
Anatopatologia
Entender a relação anatomopatológica da colite ulcerativa é extremamente importante, uma vez que seu entendimento ajuda a diferenciar a doença das demais patologias que também causam inflamação no intestino, como a diverticulite, doença de Crohn e a apendicite. Dessa forma, é importante ressaltar que a RCU acomete, exclusivamente, a mucosa do cólon.
Além disso, mediante análises patológicas, foi visto que a doença progride de forma ascendente e homogênea. A extensão do comprometimento da RCU nos ajuda a classificar seus tipos de lesões.
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Classificação da colite mediante o grau de envolvimento
- Proctite Ulcerativa: quando a doença se limita ao reto, dentro de 18 cm da borda anal;
- Proctosigmoidite ulcerativa: quando a doença atinge o reto e cólon sigmóide, até 30 cm da linha dentada;
- colite distal: também chamada de colite esquerda, uma vez que ela acomete apenas o lado esquerdo do cólon, até a flexura esplênica;
- Pancolite: classificada em casos em que a inflamação ultrapassa a flexura esplênica.
Em uma visão macroscópica, a mucosa de um cólon afetado pela colite ulcerativa pode não apresentar nenhum sinal evidente. Porém, a análise colonoscópica foi capaz de indicar uma série de possíveis alterações. São elas: Hiperemia; edema; erosões; ulcerações; exsudações; perda do padrão vascular do cólon e aparecimento de pseudopólipos. Ademais, em um estado mais avançado da doença, a mucosa poderá ficar pálida e atrófica.
Epidemiologia
Atualmente, estudos epidemiológicos e de base populacional estão sendo responsáveis por entender melhor a colite ulcerativa e de que forma ela afeta a população.
Fatores demográficos
- Idade: apesar de ser vista em qualquer idade, a doença costuma afetar pessoas entre 15 e 30 anos.
- Sexo: ocorre uma discreta predominância da RCU em homens. Tal dado é importante, pois seu principal diagnóstico diferencial (doença de crohn) acomete um número bem superior de indivíduos do sexo feminino.
- Raça e Etnia: A doença afeta mais judeus, enquanto que a incidência é menor na população negra comparada à branca. Porém, acredita-se que essa diferença na incidência étnica esteja relacionada a fatores ambientais, de estilo de vida e genéticos.
Fator geográfico
Quando as doenças intestinais inflamatórias são analisadas, nota-se um gradiente norte-sul, em que elas são mais frequentes quanto mais para o norte nos deslocamos. Ou seja, sua incidência é maior nos países da América do Norte e Europa quando comparamos com países Latinos, do continente africano e asiático.
Quais os sintomas de retocolite ulcerativa?
Os sintomas da colite ulcerativa costumam aparecer de forma gradual, aumentando progressivamente ao longo de várias semanas. Seu principal sintoma é a ocorrência de uma diarréia, que ocorre com a presença de sangue (principalmente), muco e pus, diante do quadro da inflamação retal. Associado a diarreia, podem ocorrer cólicas abdominais, urgência para defecar, tenesmo e incontinência.
Além dos sintomas acima, o paciente também poderá manifestar sintomas sistêmicos, geralmente de leve intensidade, como febre, fadiga e perda de peso. A perda de sangue também poderá causar um quadro anêmico, sendo a principal anormalidade laboratorial. Assim, também ocorrem sintomas associados à anemia, como palpitações e dispneia.
ATENÇÃO! Outras alterações laboratoriais podem surgir nos pacientes, principalmente em casos mais graves da doença, como uma hipoalbuminemia e uma leucocitose com desvio.
O estudo da gravidade da doença é importante para sabermos o quão agressivo deverá ser o manejo clínico. É possível estabelecer o nível de gravidade a partir da intensidade e frequência dos seus sintomas e sinais. Ela poderá ser classificada em leve, moderada e grave:
- Leve: apresentam 4 evacuações por dia, com ou sem sangue; cólicas de leve intensidade.
- Moderado: apresentam > evacuações por dia, com sangue e fezes amolecidas; anemia leve; dor abdominal e febre baixa.
- Grave: apresentam ≥ 6 evacuações por dia, com sangramento intenso e fezes amolecidas; cólicas intensas; febre; taquicardia; perda de peso.
Como diagnosticar?
O diagnóstico da colite ulcerativa se dá por uma história clínica compatível e evidência de inflamação ativa, através da endoscopia (retossigmoidoscopia). Além disso, o exame endoscópico deverá ser feito com biópsia e estudos laboratoriais, para ser excluído diagnósticos diferenciais.
Diagnóstico diferencial
Basicamente, o diagnóstico diferencial inclui outras causas de diarreia crônica (mais de 4 semanas).
- Doença de Crohn: principal diagnóstico diferencial, ela também envolve o cólon e apresenta clínica bastante semelhante à colite ulcerativa. Porém, não apresenta um sangramento grave, sintoma bastante característico da RCU, e apresenta doença perianal, como fissuras, abscesso e fístulas. Além disso, enquanto que a RCU acomete a mucosa do cólon de forma homogênea e regular, a doença de Crohn é difusa e irregular.
- Colite Infecciosa: apresenta clínica e aparência endoscópica semelhante, devendo ser excluída mediante realização de cultura de fezes e biópsia do cólon.
- Colite diverticular: caracterizada por inflamação da mucosa interdiverticular, pode ser diferenciada porque essa doença limita seu quadro a um segmento da doença diverticular, poupando o reto, íleo terminal e outras porções do cólon.
- Colite associada a medicamentos: o uso abusivo de AINEs podem também causar uma diarreia crônica com sangramento associado. Para diferenciar, é extremamente importante perguntar ao paciente sobre o uso de medicamentos, além da realização da biópsia, pois a mucosa de um paciente com colite associada a medicamentos será mais inespecífica e com alterações isquêmicas.
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Tratamento para retocolite ulcerativa
O tratamento deve ser feito de acordo com a gravidade da doença. O tratamento deverá ser farmacológico, porém, nos casos de refratariedade a doença ou de extrema gravidade, o tratamento cirúrgico poderá ser levado em consideração. A proctocolectomia total, em que há a retirada do cólon, promoverá a cura da pessoa. Entretanto, é preciso deixar claro que essa cirurgia é extremamente agressiva, com alta taxa de morbimortalidade.
Retocolite ulcerativa leve e moderada
O primeiro medicamento de escolha será o Mesalamina, um anti-inflamatório desenvolvido para tratar o quadro inflamatório do cólon, além de prevenir e reduzir possíveis recidivas da doença. Tal droga, de uso tópico e por via retal, deve ser usada na forma de supositório quando a doença está restrita ao reto (proctite ulcerativa).
Se a doença se estende acima de 18 cm da borda anal até o cólon sigmóide (proctosigmoide ulcerativa), deverá ser optado pelas enemas de mesalamina. Outra droga que também poderá ser utilizada, é a Sulfassalazina (derivado do 5-ASA) por via oral.
ATENÇÃO! O que mudará da colite ulcerativa leve para a moderada não será o tipo do medicamento, mas sim a sua dosagem.
Retocolite grave
Nos casos graves da doença, o paciente deverá ser internado sob dieta zero por um intervalo de 24 a 48 horas, visando uma melhora do quadro clínico, porém, o doente deverá ficar sob hidratação venosa, com correção dos distúrbios hidroeletrolíticos.
De medicamentos, é indicado o uso de antimicrobianos de amplo espectro, como o ciprofloxacina + metronidazol, além de glicocorticóide IV, por ajudar na remissão da doença. O tratamento de manutenção para impedir recidivas será o uso de derivados do 5-ASA, como sulfassalazina, e o uso de imunomoduladores para aqueles que apresentam mais do que 2 recidivas por ano.
Conclusão
A Colite Ulcerativa é uma das principais doenças intestinais inflamatórias, e é caracterizada por uma inflamação limitada à mucosa do cólon, começando geralmente pelo reto e progredindo de forma ascendente e homogênea. Seu principal sintoma é a ocorrência de uma diarreia sanguinolenta, e o tratamento visa atingir e manter uma remissão completa da doença por um longo prazo.
Nos casos leves a moderados, o tratamento será feito com anti-inflamatório, enquanto que nos casos graves, o uso de antimicrobianos de amplo espectro e glicocorticóides poderá ser feito para atingir sua remissão. A proctocolectomia total curativa também é uma opção de tratamento, porém deve ser limitada para os casos mais graves e/ou que não houve melhora com a realização dos tratamentos de primeira linha.
Continue aprendendo:
- DRGE: etiopatogenia, sintomas, diagnóstico e tratamento
- Choque: o que é, tipos e sinais e sintomas
- Anemia hipoproliferativa: causas, sintomas e diagnóstico diferencial
FONTES:
- Ko CW, Singh S, Feuerstein JD, et al. Diretrizes de prática clínica da AGA sobre o tratamento da colite ulcerativa leve a moderada. Gastroenterologia 2019; 156:748.
- TRUE AMOR SC, WITTS LJ. Cortisona na colite ulcerosa; relatório final de um ensaio terapêutico. Br Med J 1955; 2:1041.
- Silverberg MS, Satsangi J, Ahmad T, et al. Rumo a uma classificação clínica, molecular e sorológica integrada da doença inflamatória intestinal: relatório de um grupo de trabalho do Congresso Mundial de Gastroenterologia de Montreal de 2005. Pode J Gastroenterol 2005; 19 Suplemento A:5A.
- SLEISENGER & FORDTRAN - TRATADO GASTROINTESTINAL E DOENÇAS DO FÍGADO 9ª EDIÇÃO
- DynaMed. Ulcerative Colitis in Adults. EBSCO Information Services.
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