Clínica Médica
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Retocolite Ulcerativa: fisiopatologia, sintomas e tratamento 

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Equipe medclub
Publicado em
20/6/2024
 · 
Atualizado em
20/6/2024
Índice

A Colite Ulcerativa, também conhecida como Retocolite Ulcerativa (RCU), juntamente com a Doença de Crohn (DC), faz parte das chamadas “Doenças Intestinais Inflamatórias”. Essa doença, que apresenta caráter idiopático e crônico, se caracteriza por recorrentes inflamações na mucosa do cólon. Neste estudo, iremos revisar os principais aspectos da colite ulcerativa, assim como sua manifestação clínica, patogênese, seu diagnóstico e possíveis tratamentos. 

O que é retocolite ulcerativa? 

Por definição, a retocolite ulcerativa é uma condição clínica inflamatória e crônica na região da camada mucosa do cólon. Geralmente, as regiões mais afetadas são as mais distais, ela tipicamente afeta o reto, progredindo de forma ascendente. 

Infelizmente, sua etiologia ainda é bastante obscura. O que se sabe, no entanto, é que ela se relaciona com um desequilíbrio na regulação da imunidade da mucosa intestinal, e que apresenta um forte fator genético associado, uma vez que parentes de primeiro grau de pessoas acometidas pela RCU chegam a ter até 20 vezes mais chance de apresentar a doença se comparado à população geral. 

Ilustração comparativa entre um cólon normal e com colite ulcerativa
Ilustração comparativa entre um cólon normal e com colite ulcerativa. Fonte: Artrite reumatoide

Anatopatologia

Entender a relação anatomopatológica da colite ulcerativa é extremamente importante, uma vez que seu entendimento ajuda a diferenciar a doença das demais patologias que também causam inflamação no intestino, como a diverticulite,  doença de Crohn e a apendicite. Dessa forma, é importante ressaltar que a RCU acomete, exclusivamente, a mucosa do cólon

Além disso, mediante análises patológicas, foi visto que a doença progride de forma ascendente e homogênea. A extensão do comprometimento da RCU nos ajuda a classificar seus tipos de lesões. 

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Classificação da colite mediante o grau de envolvimento

Formas de lesão da Colite Ulcerativa. Fonte: IBDrelief
  • Proctite Ulcerativa: quando a doença se limita ao reto, dentro de 18 cm da borda anal;
  • Proctosigmoidite ulcerativa: quando a doença atinge o reto e cólon sigmóide, até 30 cm da linha dentada;
  • colite distal: também chamada de colite esquerda, uma vez que ela acomete apenas o lado esquerdo do cólon, até a flexura esplênica; 
  • Pancolite: classificada em casos em que a inflamação ultrapassa a flexura esplênica. 

Em uma visão macroscópica, a mucosa de um cólon afetado pela colite ulcerativa pode não apresentar nenhum sinal evidente. Porém, a análise colonoscópica foi capaz de indicar uma série de possíveis alterações. São elas: Hiperemia;  edema; erosões; ulcerações; exsudações; perda do padrão vascular do cólon e aparecimento de pseudopólipos. Ademais, em um estado mais avançado da doença, a mucosa poderá ficar pálida e atrófica. 

Imagem mostrando o aspecto endoscópico da colite ulcerosa
Aspecto endoscópico da colite ulcerosa. Imagem A mostrando um cólon com presença de ulceração extensa (achado mais comum); a imagem B mostra a mucosa com a presença de pseudopólipos e a imagem C é uma progressão desses pseudopólipos em uma mucosa. Fonte: Uptodate

Epidemiologia

Atualmente, estudos epidemiológicos e de base populacional estão sendo responsáveis por entender melhor a colite ulcerativa e de que forma ela afeta a população. 

Fatores demográficos 

  • Idade: apesar de ser vista em qualquer idade, a doença costuma afetar pessoas entre 15 e 30 anos. 
  • Sexo: ocorre uma discreta predominância da RCU em homens. Tal dado é importante, pois seu principal diagnóstico diferencial (doença de crohn) acomete um número bem superior de indivíduos do sexo feminino. 
  • Raça e Etnia: A doença afeta mais judeus, enquanto que a incidência é menor na população negra comparada à branca. Porém, acredita-se que essa diferença na incidência étnica esteja relacionada a fatores ambientais, de estilo de vida e genéticos. 

Fator geográfico

Quando as doenças intestinais inflamatórias são analisadas, nota-se um gradiente norte-sul, em que elas são mais frequentes quanto mais para o norte nos deslocamos. Ou seja, sua incidência é maior nos países da América do Norte e Europa quando comparamos com países Latinos, do continente africano e asiático. 

Quais os sintomas de retocolite ulcerativa?

Os sintomas da colite ulcerativa costumam aparecer de forma gradual, aumentando progressivamente ao longo de várias semanas. Seu principal sintoma é a ocorrência de uma diarréia, que ocorre com a presença de sangue (principalmente), muco e pus, diante do quadro da inflamação retal. Associado a diarreia, podem ocorrer cólicas abdominais, urgência para defecar, tenesmo e incontinência

Além dos sintomas acima, o paciente também poderá manifestar sintomas sistêmicos, geralmente de leve intensidade, como febre, fadiga e perda de peso. A perda de sangue também poderá causar um quadro anêmico, sendo a principal anormalidade laboratorial. Assim, também ocorrem sintomas associados à anemia, como palpitações e dispneia.

ATENÇÃO! Outras alterações laboratoriais podem surgir nos pacientes, principalmente em casos mais graves da doença, como uma hipoalbuminemia e uma leucocitose com desvio. 

O estudo da gravidade da doença é importante para sabermos o quão agressivo deverá ser o manejo clínico. É possível estabelecer o nível de gravidade a partir da intensidade e frequência dos seus sintomas e sinais. Ela poderá ser classificada em leve, moderada e grave: 

  • Leve: apresentam 4 evacuações por dia, com ou sem sangue; cólicas de leve intensidade. 
  • Moderado: apresentam > evacuações por dia, com sangue e fezes amolecidas; anemia leve; dor abdominal e febre baixa.
  • Grave: apresentam ≥ 6 evacuações por dia, com sangramento intenso e fezes amolecidas; cólicas intensas; febre; taquicardia; perda de peso. 

Como diagnosticar?

O diagnóstico da colite ulcerativa se dá por uma história clínica compatível e evidência de inflamação ativa, através da endoscopia (retossigmoidoscopia). Além disso, o exame endoscópico deverá ser feito com biópsia e estudos laboratoriais, para ser excluído diagnósticos diferenciais. 

Diagnóstico diferencial 

Basicamente, o diagnóstico diferencial inclui outras causas de diarreia crônica (mais de 4 semanas). 

  • Doença de Crohn: principal diagnóstico diferencial, ela também envolve o cólon e apresenta clínica bastante semelhante à colite ulcerativa. Porém, não apresenta um sangramento grave, sintoma bastante característico da RCU, e apresenta doença perianal, como fissuras, abscesso e fístulas. Além disso, enquanto que a RCU acomete a mucosa do cólon de forma homogênea e regular, a doença de Crohn é difusa e irregular. 
Imagem ilustrativa mostrando a diferença entre a colite ulcerativa e a doença de Crohn
Diferença entre a colite ulcerativa e a doença de Crohn. Fonte: Núcleo do conhecimento
  • Colite Infecciosa: apresenta clínica e aparência endoscópica semelhante, devendo ser excluída mediante realização de cultura de fezes e biópsia do cólon.
  • Colite diverticular: caracterizada por inflamação da mucosa interdiverticular, pode ser diferenciada porque essa doença limita seu quadro a um segmento da doença diverticular, poupando o reto, íleo terminal e outras porções do cólon.
  • Colite associada a medicamentos: o uso abusivo de AINEs podem também causar uma diarreia crônica com sangramento associado. Para diferenciar, é extremamente importante perguntar ao paciente sobre o uso de medicamentos, além da realização da biópsia, pois a mucosa de um paciente com colite associada a medicamentos será mais inespecífica e com alterações isquêmicas. 

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Tratamento para retocolite ulcerativa 

O tratamento deve ser feito de acordo com a gravidade da doença. O tratamento deverá ser farmacológico, porém, nos casos de refratariedade a doença ou de extrema gravidade, o tratamento cirúrgico poderá ser levado em consideração. A proctocolectomia total, em que há a retirada do cólon, promoverá a cura da pessoa. Entretanto, é preciso deixar claro que essa cirurgia é extremamente agressiva, com alta taxa de morbimortalidade. 

Retocolite ulcerativa leve e moderada

O primeiro medicamento de escolha será o Mesalamina, um anti-inflamatório desenvolvido para tratar o quadro inflamatório do cólon, além de prevenir e reduzir possíveis recidivas da doença. Tal droga, de uso tópico e por via retal, deve ser usada na forma de supositório quando a doença está restrita ao reto (proctite ulcerativa). 

Se a doença se estende acima de 18 cm da borda anal até o cólon sigmóide (proctosigmoide ulcerativa), deverá ser optado pelas enemas de mesalamina. Outra droga que também poderá ser utilizada, é a Sulfassalazina (derivado do 5-ASA) por via oral. 


ATENÇÃO!
O que mudará da colite ulcerativa leve para a moderada não será o tipo do medicamento, mas sim a sua dosagem. 

Retocolite grave

Nos casos graves da doença, o paciente deverá ser internado sob dieta zero por um intervalo de 24 a 48 horas, visando uma melhora do quadro clínico, porém, o doente deverá ficar sob hidratação venosa, com correção dos distúrbios hidroeletrolíticos. 

De medicamentos, é indicado o uso de antimicrobianos de amplo espectro, como o ciprofloxacina + metronidazol, além de glicocorticóide IV, por ajudar na remissão da doença. O tratamento de manutenção para impedir recidivas será o uso de derivados do 5-ASA, como sulfassalazina, e o uso de imunomoduladores para aqueles que apresentam mais do que 2 recidivas por ano. 

Conclusão 

A Colite Ulcerativa é uma das principais doenças intestinais inflamatórias, e é caracterizada por uma inflamação limitada à mucosa do cólon, começando geralmente pelo reto e progredindo de forma ascendente e homogênea. Seu principal sintoma é a ocorrência de uma diarreia sanguinolenta, e o tratamento visa atingir e manter uma remissão completa da doença por um longo prazo. 

Nos casos leves a moderados, o tratamento será feito com anti-inflamatório, enquanto que nos casos graves, o uso de antimicrobianos de amplo espectro e glicocorticóides poderá ser feito para atingir sua remissão. A proctocolectomia total curativa também é uma opção de tratamento, porém deve ser limitada para os casos mais graves e/ou que não houve melhora com a realização dos tratamentos de primeira linha. 
Continue aprendendo:

FONTES:

  • Ko CW, Singh S, Feuerstein JD, et al. Diretrizes de prática clínica da AGA sobre o tratamento da colite ulcerativa leve a moderada. Gastroenterologia 2019; 156:748.
  • TRUE AMOR SC, WITTS LJ. Cortisona na colite ulcerosa; relatório final de um ensaio terapêutico. Br Med J 1955; 2:1041.
  • Silverberg MS, Satsangi J, Ahmad T, et al. Rumo a uma classificação clínica, molecular e sorológica integrada da doença inflamatória intestinal: relatório de um grupo de trabalho do Congresso Mundial de Gastroenterologia de Montreal de 2005. Pode J Gastroenterol 2005; 19 Suplemento A:5A.
  • SLEISENGER & FORDTRAN - TRATADO GASTROINTESTINAL E DOENÇAS DO FÍGADO 9ª EDIÇÃO
  • DynaMed. Ulcerative Colitis in Adults. EBSCO Information Services.

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