Por: Beatriz Lages Zolin
A constipação intestinal é uma das principais queixas em ambulatórios e um dos motivos mais frequentes de encaminhamento para médicos especialistas (gastroenterologistas ou cirurgiões coloproctologistas). Para compreender o quanto é comum, cerca de 30% de toda a população terá constipação em alguma fase da vida e essa prevalência é três vezes maior em mulheres.
É importante se atentar para seu diagnóstico, pois é necessário identificar a causa (que pode ser grave, como câncer colorretal) e tratar antes que alguma complicação surja, por exemplo, sangramento anorretal e obstrução intestinal por fecaloma.
O que é constipação intestinal?
A constipação pode ser definida de várias formas, seja por frequência de evacuações menor que 3 vezes na semana, demanda de grande esforço ao evacuar, necessidade de manipulação digital para facilitar, fezes endurecidas ou sensação de esvaziamento incompleto. Apesar de poder subestimar o número de casos, a definição por frequência <3/semana é a mais utilizada atualmente.
Ela pode ser primária/funcional ou secundária. Falando especificamente da constipação secundária, existem várias etiologias de acordo com os mecanismos. Veja a seguir:
- Secundária a problemas mecânicos: câncer colorretal, doenças inflamatórias intestinais, hemorroidas, alterações uroginecológicas.
- Secundária a problemas neurológicos: doença de Parkinson, esclerose múltipla, AVC, lesão medular.
- Secundária a problemas metabólicos: diabetes, hipotireoidismo, uremia e distúrbios hidroeletrolíticos (hipercalcemia, hipomagnesemia e hipocalemia).
- Secundária a uso de: anticolinérgicos (anti-histamínicos, antidepressivos tricíclicos, antiespasmódicos, antipsicóticos), sulfato ferroso, diuréticos, bloqueadores do canal de cálcio e opioides.
Como diagnosticar a constipação intestinal?
O diagnóstico da constipação intestinal funcional é clínico, mas é necessário descartar as causas secundárias, citadas anteriormente, a partir de uma boa anamnese e solicitar exames complementares ao suspeitar da disfunção. Nos casos em que há sinais de alarme, é preciso solicitar colonoscopia, para afastar o diagnóstico de câncer colorretal.
Sinais de alarme
- Perda de peso significativa
- Anemia
- Hematoquezia
- Pesquisa de sangue oculto nas fezes positiva
- Histórico familiar de câncer
- Constipação refratária a laxantes
Para facilitar o diagnóstico clínico, a Fundação Roma estabeleceu alguns critérios, que devem estar presentes por pelo menos 3 meses, mas com início dos sintomas 6 meses antes.
Critérios de Roma IV para constipação funcional:
1) Presença de 2 ou mais desses subcritérios em 25% das evacuações
- Menos que 3 evacuações por semana
- Sensação de evacuação incompleta
- Esforço para evacuar
- Necessidade de manobras manuais
- Fezes de Bristol tipo 1 ou 2
- Sensação de bloqueio anorretal
2) Fezes amolecidas raramente presentes sem uso de laxativos
3) Critérios insuficientes para síndrome do intestino irritável
Lembrar de realizar o toque retal na consulta sempre que possível, pois traz dados muito importantes para o diagnóstico.
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Quais os tratamentos para a constipação intestinal?
Inicialmente, indicamos uma mudança de estilo de vida, priorizando atividade física, hidratação e uma boa dieta rica em fibras. Além disso, é válido adotar uma postura diferente na evacuação, apoiando os pés em um banco de pequena altura, a fim de obter um ângulo de 35 graus entre quadril e pernas.
O tratamento farmacológico é baseado no uso de laxantes. Existem 4 tipos, que variam por seu mecanismo de ação (formadores de bolo fecal, osmóticos, estimulantes/irritativos da mucosa e emolientes). Os emolientes caíram em desuso, enquanto os osmóticos apresentam melhor custo-benefício e poucos efeitos colaterais. Os formadores de bolo fecal (Ex: Metamucil e Benestare) são fibras sintéticas e uma ótima opção, mas são mais caros.
Os principais laxantes osmóticos são o polietilenoglicol e a lactulose, possuem mesma eficácia, porém o primeiro gera menos cólica, distensão abdominal e flatulência. A lactulose é vendida comercialmente pelo nome lactulona e pode ser iniciada com uma dose de 10-30ml, 3 vezes por dia.
O polietilenoglicol ou munvilax, é vendido em forma de sachê, sendo recomendado iniciar com 1 sachê diluído em 125ml de água, em dias alternados. É essencial explicar aos pacientes que esses laxantes não possuem resultado instantâneo e podem demorar até 3 dias para fazer efeito.
Os estimulantes são mais baratos e atuam de maneira rápida (6-12h), mas através de irritação na mucosa intestinal, podendo haver danos a longo prazo. Deve-se, então, utilizar com cuidado e somente em casos de refratariedade. Exemplos de laxantes estimulantes são lactopurga (1-2 comprimidos) e tamarine geléia (1 colher com 5g) ou cápsula (1-2). Recomendado tomar logo antes de dormir, para não atrapalhar o sono.
E entre os laxantes de via retal, o mais utilizado é o supositório de glicerina (Glicerin), com versões para adultos e crianças. A forma infantil pode ser utilizada em idosos que são mais frágeis.
Por fim, lembrar a importância das medidas não farmacológicas, para utilizar os laxantes pelo menor tempo possível.
Casos clínicos
Além de saber os tipos de tratamento, a identificação do problema é essencial para isso. Acompanhe a seguir a explicação de dois casos clínicos e aprenda a identificar, dentre outras coisas, o tipo de constipação e os sinais de alarme.
Exemplo 1
Exemplo 2
Conclusão
Portanto, a constipação intestinal é uma condição muito comum, principalmente sua forma funcional ou primária, mas devemos nos atentar também para as causas secundárias. Após feito o diagnóstico com os critérios de Roma IV, devemos iniciar o tratamento, indicando medidas não farmacológicas e uso de laxantes, como lactulose e polietilenoglicol.
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FONTES:
- Tratado de Gastroenterologia Schlioma Zaterka
- Medscape
- Lacy, B. E., Mearin, F., Chang, L., Chey, W. D., Lembo, A. J., Simren, M., & Spiller, R. (2016). Bowel Disorders. Gastroenterology, 150(6), 1393–1407.e5. doi:10.1053/j.gastro.2016.02.031
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